Wild vai atrás do top 50 na Europa
Por José Nilton Dalcim
23 de setembro de 2023 às 11:57

Apesar da longa série de torneios no saibro sul-americano, que se prolongará até a última semana de novembro, Thiago Wild optou por buscar o top 50 do ranking no piso duro coberto da Europa. O técnico Duda Matos confirmou que ele retornará ao circuito tradicional no 250 de Estocolmo, onde tem grande chance de entrar diretamente na chave, e depois tentará lugar nos 500 de Viena ou Basileia e no 1000 de Paris, devendo então encerrar a temporada nos 250 de Tel Aviv ou Metz.

“Thiago vem de dois títulos consecutivos em challengers na Europa”, enfatiza Duda, referindo-se às ótimas campanhas no saibro italiano de Como e Gênova. “Objetivo agora é focar nos ATPs. Acredito que o Thiago possa ir bem nos torneios maiores também”. Não se deve esquecer que ele derrotou nada menos que Daniil Medvedev na primeira rodada de Roland Garros em maio.

Wild é o número 76 do ranking nesta semana e por isso está com um pé dentro dos torneios 250 – Estocolmo fechou no ano passado acima dos 80 – e garantido nos qualis dos ATPs de maior quilate. A chave principal dos 500 europeus costumam fechar pouco acima do 50º posto e Paris, geralmente fica pertinho do 45º e a chave do quali, no máximo 80º.

Atualmente com 752 pontos acumulados em 12 meses, ele só perderá 14 na primeira semana de outubro e, no meio de novembro, defenderá 27. Tudo isso abre perspectivas bem animadoras para o paranaense de 23 anos. No ranking da temporada, ou seja, o acúmulo de pontos desde janeiro, ele é o 63º mais bem posicionado, com 725 pontos, algo suficiente para mantê-lo entre os 85 até o fim do calendário e o colocar no Australian Open.

Ao mesmo tempo, Wild está a teóricos 250 pontos da entrada no top 50. A meta sem dúvida é difícil, mas está ao alcance, até porque Wild se adapta muito bem ao piso duro e todos os torneios previstos dão pontuação relevante em caso de vitórias. Claro que esses torneios costumam reunir vários tops 10, já que há muita gente de olho nas vagas restantes para o ATP Finals. Estocolmo no ano passado teve Stefanos Tsitsipas, Cameron Norrie, Frances Tiafoe e o campeão Holger Rune. Já os dois 500 contaram também Carlos Alcaraz, Daniil Medvedev, Andrey Rublev e Casper Ruud.

A chance perdida por Bia
O incrível acidente de Bia Haddad Maia em Guadalajara, cortando as mãos no box do banheiro na véspera da estreia, foi duplamente cruel, já que pode ter custado muitos pontos para a brasileira nesta reta final de temporada.

Basta ver que Caroline Dolehide está na final do 1000 mexicano, depois de ter vencido com dificuldade Sachia Vickery, jsutamente a tenista que substituiu Bia. Logo depois, Dolehide tirou facilmente Ekaterina Alexandrova e então passou por Martina Trevisan, que por sua vez surpreendeu a cabeça 1 Ons Jabeur. Nesta noite, Dolehide decide com Maria Sakkari, que nunca ganhou de Bia.

Sem falar no prejuízo financeiro de não ter sequer entrado em quadra, Bia poderia estar na briga pelo 13º lugar do ranking tradicional e retornar às 10 primeiras da temporada, o que ainda lhe daria chance de lutar por vaga no Finals.

Meligeni e Monteiro atrás do top 100
Enquanto isso, Felipe Meligeni e Thiago Monteiro optaram pelo saibro sul-americano para buscar o top 100 e automaticamente a classificação direta para o Australian Open. Pensando diretamente no ranking da temporada, o que dispensa calcular defesa de resultados, Meligeni está com 407 pontos (130º colocado) e Monteiro soma 355 (148º). A tradicional linha de corte do 100º lugar são 600 pontos, porém garantia mesmo acontece com 620.

Os dois atuarão juntos tanto em Campinas, a partir de 2 de outubro, como na semana seguinte em Buenos Aires, ambos challengers que dão 100 pontos ao campeão. Caso não queiram disputar torneios um pouco menores, com nível 75, eles ainda poderão se dar bem nos challengers 100 de Montevidéu e de Brasília, este marcado para 20 de novembro. Portanto, ao menos 400 pontos estão em jogo para eles.

Ao olharmos para os jogadores nacionais que vêm mais abaixo, a situação é menos vistosa. Nenhum outro somou ao menos 170 pontos desde janeiro e isso coloca todos abaixo do 250º posto no ranking da temporada. Os mais bem posicionados são Gustavo Heide e João Lucas Reis.

O calendário sul-americano
A longa série de torneios no saibro da América do Sul começou na verdade logo depois do US Open, com a disputa de Santa Cruz de La Sierra (nível 75) e agora Antofagasta, no Chile (100). Na próxima semana, acontece o maior deles, o 125 na altitude de Bogotá.

Campinas está marcado para 2 de outubro na Hípica local, com Buenos Aires em seguida, ambos da categoria 100. Aí virão Santa Fé, Curitiba (23 de outubro), Guayaquil e Lima, todos sequenciais e de nível 75. Montevidéu está marcado para 13 de novembro, uma semana antes de Brasília, os dois da categoria 100. A última etapa acontecerá em Termuco, Chile, outro de75.

E mais

  • Novak Djokovic não vai mesmo à Ásia, concentrando-se no Masters de Paris e no Finals, torneios que poderão garantir seu oitavo número 1 ao final de uma temporada.
  • Isso dará oportunidade de Carlos Alcaraz brigar pela liderança, mas somente do ranking da temporada. Ele está 770 pontos atrás na Corrida, porém não poderá recuperar por enquanto os 2.800 do ranking de 52 semanas.
  • Alcaraz está mantido na lista do 500 de Pequim, mas há boa chance de disputar apenas o 1000 de Xangai.
  • Zverev passou para as quartas na China e assume o sétimo lugar no ranking da temporada, superando Holger Rune e Taylor Fritz.
Brasil agora torce para dar tudo certo na Davis
Por José Nilton Dalcim
17 de setembro de 2023 às 20:56

O time do capitão Jaime Oncins cumpriu missão com louvor acima do esperado em sua passagem pelo piso sintético coberto da Dinamarca. Liquidou a disputa logo no terceiro ponto com a participação direta dos quatro titulares, marcou a primeira vitória fora de casa em piso sintético em toda sua história na Copa Davis e terá nova chance de disputar um inédito lugar na fase final desse novo e polêmico formato da competição centenária por países.

Depois da extraordinária virada de Thiago Monteiro sobre o número 4 do mundo Holger Rune, o que sem dúvida abriu as portas para a vitória, e da confirmação do bom momento de Thiago Wild num jogo em que era favorito, a dupla formada por Felipe Meligeni e Rafael Matos sofreu para vencer adversários pouco conhecidos, como é muito comum acontecer na Davis. Encararam três sets incrivelmente exigentes e eu diria que os dois voleios mágicos feitos pelos dois, no 30-30 do 5/5 ainda do segundo set, evitaram que o confronto se esticasse, o que sempre deixa um risco no ar, ainda mais com torcida contrária.

Importante ser dito que a inédita vitória sobre piso sintético não me parece coincidência. Não é de hoje que Monteiro impôs um ‘upgrade’ em seu jogo em quadras mais velozes, a partir de saque mais forçado e postura ofensiva da base. E Wild sempre mostrou adaptação rápida na hora de jogar mais perto da linha e pegar a bola na subida. O próprio Meligeni tem feito exibições convincentes na superfície. Então, ainda que tenha um grupo em formação, Oncins conta com versatilidade que poucas vezes vimos num time nacional nas últimas quatro décadas.

Isso será um fator importante quando voltarmos a disputar o quali mundial em fevereiro de 2024, principalmente porque há grande chance de não sairmos como cabeças de chave e de jogarmos outra vez fora de casa. O quali mundial é formado por 24 postulantes, que irão se enfrentar dois a dois, de forma que saiam 12 classificados para a fase final de setembro. Esses 12 confrontos são no formato da alternância de sede e os cinco jogos acontecem em melhor de três sets.

Já são conhecidos 20 desses 24 participantes, a começar pelos oito que perderam na fase mundial deste final de semana (Espanha, Croácia, EUA, França, Suécia, Coreia, Chile e Suíça) e logo de cara se sabe que todos esses países estão bem à frente do Brasil no ranking da Davis. Juntam-se os vencedores do Grupo 1, mesmo caso do Brasil, e a lista já começa com Alemanha, Bélgica e Argentina, mais três com ranking superior ao time nacional.

Para piorar, quatro dos oito classificados à disputa do título também entrarão no quali e aí estamos falando que pode dar Canadá, Austrália, Grã-Bretanha, Itália, Sérvia, República Tcheca, Holanda ou Finlândia. Assim, ser um dos 12 cabeças nessa lista tão nobre é muito difícil.

Caberá assim torcer para pegarmos um país menos potente e, de preferência, jogar em casa, onde poderemos manobrar a velocidade do saibro, o calor do verão e a força do público. Qualquer missão tende a ser complicada, mas o lado positivo é que o jovem time terá mais alguns meses com oportunidade de acumular experiência e manter a evolução.

É justo que muita gente não dê mais importância à Davis, seja pelo regulamento um tanto complexo, seja pela perda da tradição de cinco sets e confrontos em casa. O torneio também não dá mais pontos para o ranking, negociação que foi brecada entre ATP e ITF depois da criação da ATP Cup. Ainda assim, oferece prestígio e ótima premiação a quem vence, sem falar que pode muito bem embalar uma carreira.

E mais

  • Os oito postulantes ao título conhecerão a chave de quartas de final nesta terça-feira, em sorteio promovido em Londres. A fase decisiva acontecerá entre 21 e 26 de novembro em Málaga.
  • Os britânicos sediaram seu grupo em Manchester e 13 mil pessoas lotaram o ginásio para ver a vitória apertadíssima sobre a França, com todos os jogos indo ao terceiro set e a dupla decisiva incrivelmente emocionante: Evans e Skupski venceram Mahut e Roger-Vasselin por 1/6, 7/6 e 7/6, salvando match-points.
  • Com um time reserva, já que Aliassime e Shapovalov ficaram de fora, o Canadá ganhou seu grupo com ótimas atuações do garoto Gabriel Diallo e segue na tentativa do segundo título consecutivo.
  • Apesar da derrota para os tchecos na rodada final, a Sérvia garantiu vaga e tem a promessa de Novak Djokovic que estará em Málaga.
  • A Itália se classificou no último confronto em cima da frágil Suécia e colocou 6 mil pessoas nas arquibancadas de Bolonha.
  • Holanda e Finlândia surpreenderam EUA e Croácia no grupo D, disputado em Split. O time americano do capitão Bob Bryan levou Tiafoe, Paul e a fortíssima dupla Krajicek/Ram.
  • Os outros países que venceram o Grupo 1 e irão jogar o quali são Ucrânia, Eslováquia, Bulgária, Hungria, Israel, Portugal, Taiwan e Peru.
Thiagos deixam Brasil perto de feito histórico
Por José Nilton Dalcim
15 de setembro de 2023 às 20:17

Com a surpreendente vitória de Thiago Monteiro sobre o número 4 do mundo e a confirmação do ótimo momento de Thiago Wild em cima de um adversário pouco experiente, o tênis brasileiro está muito perto de vencer a Dinamarca fora de casa e garantir outra vez lugar no qualificatório mundial, a ser disputado em março de 2024, e com isso sonhar com a fase final da Copa Davis.

Se marcar ao menos mais um ponto neste sábado, que já será aberto às 7h com o favoritismo da dupla Felipe Meligeni e Rafael Matos, o Brasil marcará uma façanha para suas campanhas na Davis, já que nunca derrotou um país que não seja latino-americano sobre piso sintético atuando como visitante. Nem mesmo nos áureos tempos de Guga Kuerten.

Para começo de conversa, o Brasil não vence um país europeu fora de seus domínios desde a espetacular atuação do Manezinho na vitória sobre a Espanha no saibro de Lérida, em 1999, quebrando então um jejum em confrontos desse naipe que vinha desde 1967 e os áureos tempos em que Thomaz Koch e Edison Mandarino competiam no Zonal Europeu. Nesse longo período, dependemos umbilicalmente do saibro caseiro para ganhar de potências como Espanha e Rússia ou times respeitáveis como Holanda, Croácia e Romênia.

Jogar fora da terra raramente deu bons frutos ao tênis brasileiro. As poucas vitórias obtidas foram em confrontos do Zonal Americano – Colômbia, República Dominicana, Equador, Uruguai, Chile, México, Caribe e Venezuela – e a única em Grupo Mundial, seja quali ou chave principal, aconteceu naquela contra a Áustria, em 1996, quando São Paulo sediou o confronto num tipo de tapete sem teto e Thomas Muster fugiu no terceiro dia.

Desde que o Grupo Mundial se estabeleceu, em 1981, na primeira grande reformulação da Copa Davis, perdemos continuamente quando tivemos de sair e encarar quadras duras, geralmente cobertas e velozes. Aliás até mesmo contra a Alemanha, nessa edição inaugural, perdemos num tapete colocado no Ibirapuera. Aí tivemos de ir à Romênia (1981), Alemanha (88), Suíça (92), Itália (93), França (99), República Tcheca (2002), Suécia e Canadá (03), Áustria (07), Croácia (08), Índia (10), Rússia (11), Alemanha e EUA (13), Bélgica (16), Japão (17) e no ano passado Portugal sem obter sucessos.

Então dá para ter uma dimensão bem apropriada do feito que se aproxima do jovem time que Jaime Oncins escalou para ir à Dinamarca. Ele aliás apostou no mais experiente do grupo, o canhoto Thiago Monteiro, ainda que Felipe Meligeni viesse embalado do US Open, enquanto o cearense competia no saibro nas últimas semanas. Logo de cara, Monteiro encarou a estrela local, o quarto do mundo Holger Rune, e conseguiu sair das cordas diversas vezes. Quebrado logo no game inicial, conseguiu reagir e levar a um apertado tiebreak.

Além de sacar bem, Monteiro buscava um jogo mais agressivo, porém o notável foi como conseguiu segurar a cabeça quando esteve 3/1 e depois 4/2 atrás no segundo set, recuperando-se duas vezes seguidas das quebras sofridas. E mais: 4-1 no tiebreak para o adversário. Correu riscos como era necessário. Rune ‘amarelou’? Acho que pecou pelo excesso de confiança e pagou caro. Porque o brasileiro só cresceu e o garoto não aguentou a exigência física. Muito provavelmente, pesaram ainda as seis derrotas seguidas que sofreu desde Wimbledon.

Wild teve vantagens bem aproveitadas: boa fase, ranking muito superior e o placar favorável. Em que pese um ou outro vacilo, dominou a partida contra o 412 do mundo e enfim ganhou seu primeiro jogo de Copa Davis, já que havia perdido para Alemanha e Austrália nas duras tarefas anteriores.

Matos e Meligeni devem garantir o ponto definitivo neste sábado, o que seria ótimo para dar o mesmo peso a todos os titulares. Fica a dúvida se Rune vai para o sacrifício na tentativa de um milagre, já que teria logo depois de enfrentar Wild no terceiro jogo de simples. Não acredito que ele esteja com físico e cabeça para tudo isso, ainda que a Davis sempre nos reserve o imponderável.

E mais

  • Enquanto isso, acontecem os confrontos para definir os finalistas da Davis, em quatro sedes em que quatro países lutam por duas vagas em cada grupo, tudo na quadra dura.
  • Novak Djokovic passou com sobras por Alejandro Davidovich, classificou a Sérvia e tirou o país anfitrião, já que a fase decisiva acontecerá em Málaga. Outra bola fora desse novo formato.
  • Com as duas derrotas já sofridas por Espanha e Coreia, os tchecos já garantiram sua vaga. Canadá, Grã-Bretanha e Holanda ganharam dois confrontos em seus grupos e devem confirmar.
  • Holanda se classificou para a fase final e neste sábado EUA e Finlândia decidem em confronto direto a segunda vaga.
  • A dura suspensão de quatro anos a Simona Halep por ‘uso intencional’ de substância dopante continua repercutindo. Mouratouglou chamou julgamento de ‘farsa’ e um especialista francês garantiu que ela é inocente. A romena diz que vai apelar de todas as formas possíveis.
  • Depois de duas vitórias fisicamente exigentes em San Diego, Bia Haddad não aguentou a variação de ritmo de Barbora Krejcikova e parou nas quartas. A menos que decida o 1000 de Guadalajara na próxima semana, o Finals ficará mesmo inalcançável. A boa notícia é que ela volta ao 18º lugar do ranking e está entre as 15 da temporada.