Felipe Meligeni sente que evoluiu e segue na Espanha
Por Mario Sérgio Cruz
dezembro 2, 2019 às 7:33 am
Felipe Meligeni Alves já vem treinando na Espanha nos últimos dois anos (Foto: Fotojump)

Felipe Meligeni Alves já vem treinando na Espanha nos últimos dois anos (Foto: Fotojump)

Primeiro brasileiro a garantir vaga no Rio Open de 2020, Felipe Meligeni Alves vive uma franca evolução em sua carreira profissional depois de duas temporadas treinando na Espanha. Mas apesar do bom momento, ele recebeu em setembro a notícia de que não seria mais beneficiado pelo projeto da Base na Europa, parceira da Confederação Brasileira de Tênis com a Academia BTT de Barcelona. Disposto a dar continuidade ao trabalho que já vinha sido feito, o jogador de 21 anos e 393º do ranking buscou parceiros para permanecer na Espanha na próxima temporada.

“Foi um pouco difícil, mas eu sabia que poderia acontecer, porque lá é um lugar muito caro. A partir do momento que eu recebi a notícia, comecei a buscar formas de poder ficar lá”, disse Felipe Meligeni ao TenisBrasil durante a Maria Esther Bueno Cup, competição entre jogadores brasileiros de até 23 anos, disputada na Sociedade Harmonia de Tênis, em São Paulo e que valia vaga no Rio Open. Campeão do torneio, ele garantiu um convite para disputar a chave principal de um ATP pela primeira vez.

Felipe era apenas o 950º colocado no ranking quando chegou a Barcelona, no início de 2018. Junto com ele estava o gaúcho Orlando Luz, então número 750 do mundo e atualmente no 303º lugar aos 21 anos. Os dois foram treinados pelo técnico brasileiro Léo Azevedo, mas  passaram a trabalhar com treinadores espanhóis depois que Azevedo deixou a academia para atuar na federação britânica. A partir de 2020, o Programa de Alto Rendimento da Confederação deve focar em locais de treinamento no Brasil e Orlandinho ainda não definiu qual será sua base de treinos na próxima temporada.

Confira a entrevista com Felipe Meligeni Alves.

Em primeiro lugar, como você prefere ser chamado? Felipe Alves ou Felipe Meligeni. A gente vê seu nome escrito de várias formas.
Eu não sei. Para mim dá na mesma. Com Meligeni, a galera sempre vai comparar com o meu tio, mas não tem problema. Podem chamar do jeito que acharem melhor. Para mim tá igual.

Aqui no Brasil todo mundo te conhece como sobrinho do Fino, mas lá fora, e aqui na América do Sul, especialmente na Argentina, as pessoas te reconhecem por causa do seu tio?
A galera sabe, pelo nome Meligeni. Perguntam se é meu pai ou se é meu tio, mas só aqui na América do Sul. Lá na Europa, é difícil alguém falar.

A sua temporada teve momentos bem distintos. No primeiro semestre você estava jogando futures, ganhou mais de 40 jogos e três títulos. E agora no segundo semestre você veio aqui para a América do Sul e jogou os challengers, venceu alguns jogos e fez uma campanha legal em Buenos Aires. Como você sentiu essa diferença de nível entre os dois circuitos?
A diferença para mim é que no future você pode ter uma queda de rendimento ou de mental. Você pode ter momentos ruins e ganhar o jogo do mesmo jeito ou ganhar o torneio do mesmo jeito. E nos challengers, quando acontece, muitas vezes não tem volta. Quando você comete esses erros, os caras podem passar por cima de você muito rápido.

Você deve continuar treinando na Espanha. Como você recebeu a notícia a respeito da questão da CBT e como foi possível para viabilizar sua permanência por lá?
Chegou essa notícia para mim em Campinas. Eu estava jogando o challenger lá. Na hora eu fiquei meio assim… ‘Putz! Estava jogando bem, tanto eu quanto o Orlando. Tinha cumprido as metas que a gente tinha recebido’… Foi um pouco difícil, mas eu sabia que poderia acontecer, porque lá é um lugar muito caro e, querendo ou não, o real não vale nada lá fora. Você convertendo, acaba gastando muito. Mas a partir do momento que eu recebi a notícia, comecei a buscar formas de poder ficar lá. Aí eu estava no Rio de Janeiro e encontrei um cara que agora está me dando uma ajuda. E eu tenho um outro que é mais ou menos da minha família, de coração, um cara que é quase como meu pai, que também está me ajudando com um dinheiro por mês. Se não fosse por eles, eu realmente não teria voltado, porque é muito caro para ficar lá fora. Estava começando um trabalho com um treinador novo agora e fiz de tudo para ficar lá. Estou em um momento muito bom na minha carreira e tenho muita coisa para evoluir. Acho que vale a pena. Querendo ou não, é o centro do tênis. Então foi uma escolha certa que eu fiz.

Pode falar o nome dessas pessoas e do seu técnico também? 
Estou agora com o treinador Marc Garcia. Ele está me ajudando. Quando eu trabalhava com o Léo Azevedo, ele era muito próximo do Léo e é um cara que tem a mesma mentalidade. Estou com uma ajuda do Bruno Bonjean, que é um cara que eu já conhecia, mas conversei com ele no Rio e expliquei um pouco da minha situação. Ele propôs uma parceria para me dar uma ajuda e fiquei muito feliz. E tem um cara lá de Campinas, que é pai de um amigo meu, o José David da construtora Procivil. Eu uso na manga. Se não fosse por isso, eu não teria ficado na Espanha, teria ficado por aqui na América do Sul mesmo.

Não necessariamente no Brasil, mas em algum dos países aqui na América do Sul?
Sim, em algum desses países.

Sabe se o Orlandinho já se decidiu se irá ficar na Espanha?
Ainda não tô sabendo.

Em termos de ranking, você cumpriu sua expectativa de ficar mais perto dos 300. O que você projeta para o ano que vem?
Eu poderia até terminar um pouco melhor. Eu venho jogando muito bem e poderia ter baixado um pouco mais. Eu queria ter acabado no top 300, mas por uma razão ou outra, acabou não acontecendo. Mas 390 é um bom ranking também. Em dois anos, eu subi 700 posições. Ano que vem, quero jogar os qualis dos Grand Slam. Na Austrália, eu não vou poder, mas quero jogar os outros e estar entre os 250. Quem sabe, terminar o ano perto do top 150 ou até perto do top 100.

O quanto aquele primeiro semestre, quando os futures não davam pontos na ATP, te atrapalhou um pouco? E agora que você vai ter um calendário mais estabilizado, o quanto vai ajudar? 
Foi um pouco difícil no começo. Você sempre precisava se preocupar em estar entre os 30 da ITF para poder jogar os challengers e tentar fazer pontos. Você podia ganhar os futures, mas pegar uma primeira rodada dura em challenger, perder e não pontuar. Era bem difícil ter que se preocupar em defender dois rankings o tempo inteiro. Acho que essa volta aos pontos normais me beneficiou bastante. Consegui entrar direto nos challengers e comecei a ganhar jogos de challenger, o que faz muita diferença. Tem uma diferença de nível muito grande do challenger para o future e você se cobra muito mais quando está jogando um torneio maior. Essa volta me ajudou bastante e vai ser bom no ano que vem.  

Você teve bons resultados nas duplas. O quanto isso ajudou em termos de evolução?
Dupla me ajudou bastante para ganhar ritmo. Até quando você não se sente jogando bem, a dupla te dá confiança quando você vai ganhando. Você começa a se sentir melhor em quadra, e tem sempre um cara do seu lado te apoiando. Isso é bom. Eu gosto muito de jogar duplas e acho que me ajuda bastante para simples. Estou com bons resultados e perto de 170 no ranking [é atualmente o 178º colocado], então acho que eu preciso tentar baixar um pouco o ranking de simples para não ter tanta diferença.

Se surgir a oportunidade de entrar em um torneio maior, como um ATP 250, nas duplas, você poderia priorizar em uma semana ou outra?
Quem sabe. Isso teria que ver no calendário e ver como vai ser durante o ano.

Quando você estava jogando future, como era para lidar mentalmente com aquelas giras muito longas no mesmo lugar? Eu entrevistei a Carol [Meligeni] algumas vezes e ela falava um pouco disso, sobre ficar no mesmo hotel, enfrentar as mesmas adversárias e ter os mesmos árbitros…
Hoje em dia eu não faço mais essas giras muito longas. Estando na Espanha, você consegue voltar, porque não são caras as passagens. É bom para viajar. Mas eu já fiz giras de 10 ou 15 semanas e é muito desgastante. A partir da quinta semana, você já está querendo se matar. Se você está no mesmo lugar é realmente bem desgastante e você acaba ficando um pouco de saco cheio, mas é assim a vida de sul-americano. Não é fácil. A gente tem que batalhar, tem que ralar, para chegar o mais longe possível e sair dessa situação o mais rápido possível.

O seu tio te aconselha nessa parte de calendários e locais que têm uma estrutura legal?
Sim, eu converso muito com o meu tio sobre torneios e lugares para eu jogar. Ele me ajuda bastante com o calendário. Ele me ajuda bastante e sempre vejo o que ele do que eu tenho planejado, ele me fala do que acha bom. Então, ele ajuda bastante.


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