Clermont-Ferrand (França) - A omanense de 27 anos Fatma Al Nabhani relatou um desvios de conduta de árbitros e do staff de um torneio ITF de US$ 25 mil, que disputou no saibro francês Clermont-Ferrand na semana passada. A jogadora, que é muçulmana, acusou os oficiais de racismo, discriminação de suas crenças e costumes, além de favorecimento a uma jogadora da casa.
Depois encerrar sua participação nas oitavas de final, Al Nabhani mandou um e-mail à ITF e também compartilhou o conteúdo da carta com o site Sport 360, que cobre as competições do Oriente Médio. "Eu jogo tênis desde criança e comecei a jogar no circuito profissional em 2007. Nunca enfrentei racismo em minha vida, sei que este é um assunto muito delicado para se falar, mas o que enfrentei em Clermont, na França, foi inaceitável".
Al Nabhani é figura conhecida nos torneios da WTA que acontecem no mês de fevereiro, no Oriente Médio. Costumeiramente ela acaba recebendo convites para os fortes eventos de nível Premier de Doha e Dubai nessa época do ano. Embora fique isenta de utilizar o hijab, tradicional véu que esconde os cabelos, orelhas e pescoço de mulheres, a omanense ainda precisa fazer uma adaptação nos trajes em quadra e veste calças compridas por baixo de seu material esportivo. Ela relata ter sido coagida por um árbtiro a modificar a vestimenta.
"Por ser uma jogador muçulmana e oriunda de um país árabe, eu uso leggings debaixo da saia, respeitando minha religião e me sentindo confortável para jogar. A regra dos trajes da ITF nos permite jogar com leggings na altura do joelho e eu tenho jogado assim há 12 anos competindo nos circuitos da ITF e da WTA e nunca tive um problema com o meu traje", explica a atual 406ª colocada no ranking da WTA.
"Na partida da primeira rodada, contra a francesa Elsa Jacquemot, o árbitro da cadeira era francês e, antes de fazer o cara-ou-coroa, olhou para mim e disse que eu precisaria tirar a legging. Eu disse a ele que não faria isso, porque eu jogo assim desde os 12 anos. Ele disse então que eu não poderia jogar. Pedi, por favor, que ele verificasse com o diretor do torneio", relatou a omanense, que tem como melhor ranking o 362º lugar em 2010.
"O diretor do torneio disse que as regras permitem que eu jogue com leggings na altura do joelho. Então o árbitro da cadeira pediu-me para puxar as minhas leggings mais de cinco centímetros para que eu pudesse jogar, porque para ele aqueles cinco centímentros eram grande coisa. Fiz isso, não disse nada e joguei meu jogo", comenta a omanense, que venceu aquele jogo por 5/7, 6/4 e 6/4.
Já na segunda rodada, em que enfrentou a também francesa Myrtille Georges, Al Nabhani fez acusações ainda mais graves. "Durante todo o jogo, o árbitro de cadeira estava conversando em francês com minha adversária nas trocas de lado e ambos estavam rindo", relata. "Eu entendo que todos os árbitros possam cometer erros, mas quando todos os erros são contra mim, fica um ponto de interrogação. O árbitro de cadeira cometeu tantos erros contra mim que eu não posso nem contá-los, e aplicava overrule sobre as decisões dos juízes de linha apenas contra mim. Por quê?"
"Fui até ele e disse: 'Por favor, você precisa ser justo e precisa se concentrar, isso não é aceitável', ele me dá um 'code violation'. Enquanto isso, minha oponente estava xingando em francês e dizendo coisas ruins sobre mim, que eu entendo e a platéia também ouviu, e ele não faz nada! Só porque eu estava reclamando e exigindo o meu direito, eu fui punida. O árbitro de cadeira estava contra mim desde o início da partida e eu não tinha o direito de reclamar com ninguém, nem mesmo chamar o supervisor para perguntar a ele", comenta a omanense, que abandonou a partida quando perdia por 5/7, 7/6 (9-7) e 3/0.
Por meio de comunicado, a ITF se manifestou sobre o caso. "A ITF leva qualquer alegação de racismo muito a sério. De acordo com nossos regulamentos, conduziremos uma investigação sobre o assunto, reunindo informações de todas as partes relevantes. Nós responderemos à jogadora e prosseguiremos com o assunto prontamente". A jogadora francesa Myrtille Georges foi procurada pelo site Sport 360 para comentar as acusações, mas não as respondeu.