Hamburgo (Alemanha) - O dia 30 de abril marca um dos episódios mais tristes da história do tênis. Há 26 anos, a então número 1 do mundo Monica Seles sofreu um atentado dentro de quadra, quando atuava no saibro alemão de Hamburgo. Nascida na antiga Iugoslávia e posteriormente naturalizada norte-americana, Seles tinha apenas 19 anos e vencia a búlgara Magdalena Maleeva pelas quartas de final do torneio por 6/4 e 4/3 quando foi atingida por uma facada de um espectador alemão.
Identificado como Gunther Parche, então com 38 anos, o agressor de Monica Seles era um torcedor fanático da rival Steffi Graf e não aceitava o fato de ver sua jogadora favorita perder o domínio do circuito para outro nome. Um perfil de Seles publicado em novembro de 2008 pelo New York Times relembra a obsessiva motivação do autor do atentado.
"Seles tinha apenas 19 anos, e Parche estava zangado por ela ter roubado a cena de sua compatriota Steffi Graf. Ele, então, se arrastou para fora das arquibancadas e esfaqueou Seles nas costas durante o intervalo de um jogo que deveria ter sido uma vitória de rotina na quadra de saibro sobre Magdelana Maleeva", escreveu o jornalista Christopher Clarey, em 2008. "Na época, foi chocante e terrivelmente lógico. Parche estava obcecado por Graf. Seles estava bloqueando o caminho de Graf. Por que não simplesmente remover o obstáculo?"
Liderança no ranking foi dividida
Steffi Graf acabou conquistando os quatro Grand Slam subsequentes ao atentado contra Seles. A série se iniciou no saibro de Roland Garros em 1993 e terminou no Australian Open do ano seguinte. A alemã rapidamente conseguiu alcançar a liderança do ranking mundial, mas Seles não teve sua posição alterada e foi considerada uma "co-número 1".
A volta de Monica Seles às quadras aconteceria apenas no segundo semestre de 1995. No ano seguinte, conquistou na Austrália o último de seus nove títulos de Grand Slam em simples. A norte-americana ainda chegaria à final de Roland Garros em 1998, mas ficou com o vice-campeonato depois de ser superada pela espanhola Arantxa Sanchez Vicário. Sua última competição como profissional aconteceria em 2003.
Mudanças no circuito após o atentado
Presidente da WTA na época do atentado, a ex-número 3 do mundo Pam Shriver falou ao New York Times em julho de 2015 sobre as mudanças que o circuito teve desde o condenável episódio ocorrido há mais de duas décadas. "O mundo mudou totalmente depois disso".
Uma das principais mudanças foi o maior afastamento das cadeiras das jogadoras em relação ao público. Além disso, profissionais de segurança passaram a atuar de frente para os torcedores para inibir invasões de quadra. As jogadoras também recebiam novas orientações. "Existem coisas que você nunca deve falar em público, como por exemplo o número do quarto do hotel em que você está. Quando você é uma jovem atleta, você talvez não considere isso, mas pós-Seles, você tem que fazer isso", afirmou a ex-jogadora profissional.
Kvitova já viveu drama similar
Recentemente, outra jogadora já viveu o drama de um atentado, porém fora das quadras. A tcheca Petra Kvitova foi atacada dentro de casa, em seu país natal, em dezembro de 2016 durante um assalto. Após entrar em luta corporal com o agressor, a jogadora então com 26 anos sofreu profundos ferimentos por faca na mão esquerda.
Canhota, Kvitova passou por delicadas e complexas cirurgias de reconstrução da mão. Ela conseguiu voltar às quadras em maio de 2017, em Roland Garros, e ganhou um título na grama de Birmingham no mês seguinte. Bicampeã de Wimbledon em 2011 e 2014, Kvitova voltaria à uma final de Grand Slam em janeiro deste ano, mas ficou com o vice no Australian Open, superada pela japonesa Naomi Osaka. Atualmente, a tcheca vive ótima fase no circuito e já voltou a ser a número 2 do mundo, igualando o melhor ranking de sua carreira.