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Quadra Central: a história do templo do tênis
01/07/2019 às 07h05
José Nilton Dalcim

Entre tantos detalhes que fizeram de Wimbledon a história viva do tênis, a Quadra Central se transformou num templo e uma verdadeira instituição. Jogar ali é algo extremamente especial e exclusivo, já que o piso é cuidado de forma meticulosa por 12 meses a fio para unicamente sediar o torneio no ano seguinte. Ninguém mais pisa lá e o campeão da edição anterior tem o direito de abrir o torneio há quase um século.

A primeira sede do All England Club tinha 16 mil metros quadrados e ficava entre a Worple Road e a linha de trem no subúrbio de Londres. O primeiro torneio de tênis aconteceu em 1877 e o sucesso forçou os dirigentes a criar mais e mais quadra, chegando a 12, uma ao lado da outra. A final sempre acontecia na quadra que ficava ao centro. Nascia a Central.

O interesse do público também crescia rapidamente e isso motivou a construção de arquibancadas permanentes. Duas quadras foram realocadas para se erguer um estádio em volta da Central, que em 1908 abrigou as finais das Olimpíadas.

Mudando de casa
A sede estava acanhada para tanta gente que queria ver Wimbledon. Em 1920, decidiu-se pela compra de um novo terreno na Church Road. O custo total foi de 140 mil libras à época e muitos diziam que se tratava de um 'elefante branco'. O dinheiro veio das reservas financeiras já grandes do Club com o torneio, mas principalmente com a venda de títulos sociais de longa duração com direito a ingresso permanente, sistema de debêntures que persiste até hoje.

Demorou-se dois anos para a construção do novo complexo, já com grande estádio, e a mudança oficial foi concluída em 22 de junho de 1922, quando o rei George V e a rainha Maria inauguraram oficialmente o novo Club e a edição de Wimbledon. Ao mesmo tempo, o Comitê decidiu abolir o 'challenge round', em que o campeão da edição anterior apenas defendia seu título na final diante do vencedor da chave, e foi obrigado a optar por um democrático sorteio dos ingressos, já que a procura era muito superior à demanda. Isso também segue feito e a única mudança é que os pedidos por entradas não serão mais feitos por correio, mas via Internet em 2020.

A nova sede era composta da Quadra Central e mais 12 quadras de grama - hoje são 19 no total -, mas o conceito de colocar o estádio no meio do terreno se perdeu. A Central ficou ao Norte e só ganhou novamente a posição nobre quando foram construídas quatro novas quadras e principalmente ao se deslocar a Quadra 1, uma verdadeira réplica da Central. Estas duas são as únicas quadras que jamais são usadas pelo sócios do Club, sendo preparadas e usadas unicamente para o torneio.

O primeiro jogo da nova Central precisou esperar a chuva passar. Então Algernon Kingscote venceu Leslie Godfree, por 6/1, 6/3 e 6/0. A ocupação era para 10 mil pessoas e foi criado o Royal Box, com 75 lugares reservados à família real ou seus convidados. A Quadra 1 de então recebeu um estádio em 1928 para 7.328 pessoas. A mudança de lugar ao Norte da Central permitiu aumentar sua capacidade para 11.429 a partir de 1997. A antiga Quadra 1 abriga hoje o centro de arbitragem e de imprensa.

Bombardeio alemão
As instalações do All England Club foram requisitadas pelos militares durante a Segunda Guerra, servindo até mesmo como estacionamento para carros de bombeiro e ambulâncias. O gramado era usado para várias atividades e surgiu um quintal com porcos, galinhas, coelhos e gansos. Isso fez com que os alemães dirigissem um ataque aéreo ao Club e em outubro de 1940 uma bomba de 230 quilos caiu sobre a Central, causando a perda de 1.200 lugares.

O Club só voltou à normalidade com o fim da Guerra, em julho de 1945, e alguns jogos entre os próprios militares aconteceram na Quadra 1, incluindo o Campeonato Europeu Norte-americano, vencido pelo inglês Charles Hare, que servia o exército americano. O torneio de Wimbledon só voltou a ser realizado em 1946, mas a recuperação total do Club e da Central só seria completada em 1949.

Expansão da Central
Muitas modificações foram feitas na Central sempre com o objetivo de colocar mais público. O teto original de 1922 tinha o objetivo de proteger uma parte dos pagantes do eventual mau tempo. Uma grande mudança ocorreu em 1979, quando se arranjou 1.088 novos assentos. Já em 1992, a estrutura do teto foi trocada para retirada de colunas e aí a capacidade aumentou mais 3.601 lugares.

Finalmente, em 2009, inaugurou-se o teto retrátil translúcido e com isso conseguiu se chegar à capacidade atual de exatos 14.979 llugares. O primeiro jogo a acontecer sob o teto foi de Amélie Mauresmo e Dinara Safina, em 29 de junho de 2009. Isso permitiu que a rodada também se alongasse, mas com o longo jogo de 2010 entre Novak Djokovic e Olivier Rochus, encerrado às 22h58 locais, decidiu-se que qualquer jogo será interrompido após as 23h.

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