Notícias | Dia a dia
Guga celebra os 20 anos do segundo título em Paris
11/06/2020 às 08h18

Guga precisou de onze match points para conseguir o segundo título

Foto: Arquivo

Paris (França) - A segunda das três conquistas de Gustavo Kuerten em Roland Garros foi consolidada no dia 11 de junho de 2000. Guga já havia triunfado no saibro parisiense três anos antes, em uma campanha improvável para um jovem de 20 anos e 66º do ranking. Mas o cenário em 2000 era bem diferente. Então número 5 do mundo, o brasileiro manteve o embalo dos títulos em semanas anteriores e voltaria a ser campeão em Paris depois de vencer o sueco Magnus Norman na final por 6/2, 6/3, 2/6 e 7/6 (8-6).

A final de Roland Garros entre Guga e Norman foi um tira-teima após outros dois confrontos no saibro naquele ano. O sueco levou a melhor na decisão em Roma, enquanto o brasileiro deu o troco nas quartas de final de Hamburgo, na campanha para o título na Alemanha. Durante a temporada de saibro, Guga venceu 18 jogos e perdeu apenas dois, chegando a acumular 13 vitórias seguidas.  

Guga eliminou dois campeões em Paris
Assim como já havia acontecido no título de 1997, quando destronou três campeões de Roland Garros, Guga novamente teve vencedores do torneio pelo caminho. O primeiro deles foi o norte-americano Michael Chang, campeão de 1989, pela terceira rodada em Paris. O brasileiro marcou as parciais de 6/3, 6/7 (9-7), 6/1 e 6/4. Já pelas quartas de final, venceu uma batalha de cinco sets contra o russo Yevgeny Kafelnikov por 6/3, 3/6, 4/6, 6/4 e 6/2. 

Nas duas primeiras fases, Guga sequer perdeu sets. Ele estreou arrasando o sueco Andreas Vinciguerra por 6/0, 6/0 e 6/3 em apenas 1h13 de partida. Depois, passou pelo argentino vindo do quali Marcelo Charpentier por 7/6 (7-5), 6/2 e 6/2. Outro duelo sul-americano foi diante do equatoriano Nicolas Lapentti nas oitavas. Guga venceu por 6/3, 6/4 e 7/6 (7-4).

A semifinal em Paris foi dramática. Guga ficou em quadra por 3h38 e precisou de cinco sets para vencer o espanhol Juan Carlos Ferrero por 7/5, 4/6, 2/6, 6/4 e 6/3. Além de estar perdendo por 2 sets a 1, o brasileiro também teria o serviço quebrado no início do quarto set. Ferrero, então com 20 anos e número 16 do mundo, já mostrava seu enorme potencial. Anos depois, em 2003, o espanhol também se tornaria um campeão de Roland Garros e alcançaria a liderança do ranking mundial.

Guga precisou de onze match points na final
Foram necessários onze match points, em um intervalo de 50 minutos entre o primeiro e o último, até que Guga confirmasse a vitória. As quatro primeiras chances foram quando o brasileiro vencia o quarto set por 5/4. Uma dessas chances, em uma bola duvidosa de Norman, que o árbitro considerou boa. Dois games mais tarde, foram quatro novas oportunidades de tentar definir a partida, mas Guga só confirmaria a vitória já no tiebreak. Até hoje, Guga acredita que perderia o jogo se não vencesse o quarto set.

Em depoimento a Luis Colombini para sua autobiografia Guga, um brasileiro (Sextante, 2014, p. 262), o tricampeão de Roland Garros falou sobre os match points perdidos e a recuperação de Norman na partida.

"Só faltava mais um ponto. Norman sacou. Na sétima troca de bolas, ele arriscou uma direita e errou. Bola fora. Depois de três horas de confronto, eu e o Norman começamos a andar em direção à rede para os cumprimentos. No meio do caminho, tratei de apontar a marca da bola e segui adiante. O sueco vinha cabisbaixo, mas de repente parou. O que tinha acontecido? O juiz desceu da cadeira, olhou a marca de perto e deu bola boa. O semblante de Norman se iluminou".

"Naquele instante, o que restava de tranquilidade foi para o espaço e a raiva do juiz ficou estampada na minha cara: 'Não posso acreditar que esse cara decidiu inventar que a bola foi dentro se todo mundo viu que foi fora'. Mas o estrago já estava feito. Da mesma forma que o meu ânimo tinha levado um balde de água fria, o de Norman entrou em ebulição. Num segundo ele estava morto, e no outro estava mais vivo do que nunca".

Segundo título marcou a confirmação
Guga recebeu o troféu das mãos do alemão Boris Becker, ex-número 1 do mundo e vencedor de seis Grand Slam. "Fico muito feliz por estar aqui de novo e dividir esse momento com tantas pessoas especiais para mim. Eu estava muito nervoso para fechar o jogo, e também estou nervoso para falar agora, porque é sempre difícil", disse Guga, durante a cerimônia de premiação.

"Foi aqui onde tudo começou, onde eu apareci pela primeira vez. Eu vinha do nada, comecei a jogar bem e acabei sendo campeão em 97", acrescentou o catarinense, que estava com 23 anos quando venceu o torneio pela segunda vez. Ele voltaria a conquistar o título no ano seguinte. "Então, foi aqui onde eu comecei a viver os meus sonhos. E agora um novo sonho se torna realidade. É um grande momento para mim e espero poder voltar aqui".

Com o título, Guga saltaria para o terceiro lugar do ranking da ATP, ficando atrás apenas dos norte-americanos Andre Agassi e Pete Sampras. O brasileiro também passaria a liderar a Corrida dos Campeões, que considerava apenas os resultados obtidos naquele ano. Guga chegaria ao topo do ranking mundial em 4 de dezembro daquele ano, depois de vencer a antiga Masters Cup (atual ATP Finals) em Lisboa, depois de derrotar os próprios Agassi e Sampras nas fases finais. 

Comentários