Paris (França) - A italiana Martina Trevisan é uma das surpresas na chave feminina de Roland Garros. A jogadora de 26 anos e número 156 do mundo veio do qualificatório em Paris e já venceu sete seguidas no caminho até as quartas de final. A campanha irá levá-la ao top 100 pela primeira vez na carreira. Trevisan tem uma incrível história de superação, já que ficou mais de quatro anos longe do tênis, no período que lutava contra distúrbios emocionais e alimentares, chegando a desenvolver um quadro de anorexia.
"Eu odiava meu corpo musculoso e impunha a mim mesma dietas muito duras para perder peso", escreveu Trevisan, em relato ao site The Owl Post. "Eu comia trinta gramas de cereais e uma fruta à noite. Isso era o suficiente para me manter em pé e preocupar minha mãe, que corria para colher pêssegos nas árvores só para me ver comer alguma coisa".
Natural de Florença, a canhota italiana foi uma juvenil de bom nível entre 2008 e 2009. Mas quando tinha 16 anos, em 2010, parou de jogar tênis. Naquela época, seu pai havia sido diagnosticado com uma doença degenerativa. E pouco depois, sua mãe acabou se casando de novo.
"Não foi fácil ver mamãe reconstruir sua vida com uma nova pessoa ao lado dela, que sempre fez parte da minha vida, mas de uma forma diferente. Eu estava com tanta raiva dela e não conhecia outra arma para machucá-la que não fosse seu amor por mim. Estava lutando contra tudo o que representava meu passado de atleta, no qual todos depositaram grandes esperanças e ambições", acrescenta a italiana, que disputa apenas o segundo Grand Slam da carreira profissional.
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— Martina Trevisan (@MartinaTrevisa3) July 31, 2020
"Felizmente, depois de chegar a um caminho que parecia sem volta, percebi que não poderia continuar assim. Tinha perdido todo o interesse, estava fechada no meu próprio casulo, num estado de apatia em que já nem me reconhecia", explica a tenista, que foi 57ª colocada no ranking juvenil da ITF.
"Fui reeducada para comer e fazer as pazes com minhas feridas. Passei a valorizar meu corpo de novo, perdoar aqueles que cometeram erros e tentei encontrar meu tempo para fazer as coisas. Quase sem perceber, me vi de novo com uma raquete nas mãos", complementou Trevisan, que só voltaria ao circuito em maio de 2014 e foi escalando o ranking disputando os torneios de menor premiação do tênis profissional.
Semanas de grandes vitórias em Paris
Depois de superar o quali, Trevisan eliminou jogadoras de destaque em Roland Garros. Sua estreia foi contra a compatriota Camila Giorgi, que abandonou quando perdia por 7/5 e 3/0. Depois, passou pela promissora norte-americana de 16 anos Coco Gauff, 51ª do mundo, por 4/6, 6/2 e 7/5. Na terceira fase, a italiana salvou dois match points na vitória contra a grega Maria Sakkari por 1/6, 7/6 (8-6).
Perfectly placed for a spot in the quarter-finals 👏
— Roland-Garros (@rolandgarros) October 4, 2020
Qualifier Martina Trevisan defeats No.5 seed Bertens 6-4 6-4.#RolandGarros pic.twitter.com/YTSRDK8WIT
Já neste domingo, conseguiu a maior vitória da carreira com um duplo 6/4 sobre a holandesa Kiki Bertens, número 8 do mundo e cabeça 5 do torneio. "Provavelmente foi uma das melhores partidas que já fiz. Acho que hoje a intensidade do meu jogo foi muito bom. Eu fui muito agressiva. Então, sim, talvez seja uma das melhores partidas que joguei aqui em Paris", comentou na entrevista coletiva.
Sua próxima adversária é a jovem polonesa de 19 anos e 53ª do ranking Iga Swiatek, algoz de Simona Halep em Paris. "Vai ser um jogo muito difícil porque Swiatek é uma jogadora jovem e venceu a Halep hoje. Não vi a partida, mas acho que ela jogou muito bem. Então, por enquanto, tenho que aproveitar esse momento e essa vitória. E a partir de amanhã vou pensar nas quartas de final".
O nome Martina tem história no tênis, Navratilova tem 18 títulos de Grand Slam em simples, enquanto Hingis venceu cinco títulos deste porte, mas a italiana diz não saber por que sua família o escolheu. "Eu não sei por que me chamaram de Martina, mas gosto muito desse nome, então posso agradecer aos meus pais". A italiana também mandou um recado para os que sofrem dos mesmos distúrbios que ela teve. "A mensagem é focar no sonho deles e nunca desistir da sua vida, de tudo que você deseja fazer e deseja alcançar".