Com uma vitória e uma derrota nas duas primeiras rodadas das Masters Cup de Lisboa em 2000, Gustavo Kuerten chegava à última rodada da fase de grupos com a missão de vencer para continuar com chances de conquistar um título inédito e de chegar ao topo do ranking mundial. Diante do russo Yevgeny Kafelnikov, em 1º de dezembro daquele ano, Guga venceu um confronto direto pelo segundo lugar do grupo ao marcar as parciais de 6/3 e 6/4.
O resultado classificou Guga para a semifinal da competição disputada no Pavilhão Atlântico de Lisboa. De quebra, o então número 2 do mundo já sabia qual era combinação de resultados necessária para que ele assumisse a ponta. Uma vitória de Pete Sampras contra o russo Marat Safin, que liderava o ranking, na última rodada do outro grupo deu sobrevida ao brasileiro na busca pela primeira posição.
Duelo com Sampras na semifinal
Guga enfrentaria Pete Sampras em uma das semifinais do dia seguinte. O outro jogo teria o também norte-americano Andre Agassi, único invicto na fase de grupos, diante de Safin. Para ser o novo número 1, Guga teria que ser campeão e torcer para que Safin não chegasse à final do torneio.
A vitória sobre Kafelnikov serviu como um tira-teima de dois confrontos anteriores naquele ano. O brasileiro havia vencido um duelo de cinco sets na campanha para o título de Roland Garros, enquanto o russo havia levado a melhor durante os Jogos Olímpicos de Sydney. Kafelnikov, aliás, disputava sua 101ª partida naquela temporada, com 66 vitórias e 35 derrotas. Para efeito de comparação, Guga fez em 2000 a temporada mais longa e vitoriosa de sua carreira, com 63 triunfos em 88 jogos.
'Estou jogando o melhor tênis da minha vida', disse após o jogo
Apesar de ter sofrido com problemas físicos durante o torneio, especialmente na derrota para Andre Agassi em sua partida de estreia, Guga se sentia muito confiante com o nível de tênis apresentado e sabia que estava vivendo um momento muito especial em quadra. "Eu estava muito animado, jogando um ótimo tênis. Como eu disse antes, talvez eu esteja jogando o melhor tênis da minha vida", disse na entrevista coletiva após a partida. "Sinto que estou fazendo as jogadas certas em todos os golpes. É uma sensação ótima!
"Eu sei que, fisicamente, não estou da melhor maneira que eu gostaria, mas estou sentindo a bola muito bem. Eu tenho em mente de que sinto muito prazer com o que estou fazendo agora. As coisas estão funcionando. Estou tendo sorte. Quando preciso, consigo ganhar alguns pontos na rede e as quebras que não conseguia na primeira partida, e nem na semifinal que eu perdi em Paris também. Acho que as coisas estão vindo para o meu lado um pouco nesta parte do ano. Espero que continue assim na semifinal", acrescentou o brasileiro, já projetando o duelo com Sampras.
"Cheguei à semifinal, o que não esperava. É um feito histórico para mim e para o Brasil. Vou jogar contra o Sampras, que considero o melhor jogador de todos os tempos. É uma ocasião muito especial. Amanhã estarei muito motivado e vou lutar muito. Eu sei que nós dois temos chances iguais", complementou Guga.
'Deixei Kafelnikov desnorteado', revela em livro
Já em sua autobiografia, Guga, um brasileiro (Sextante, 2014), Guga falou sobre a estratégia agressiva e que teve sucesso no duelo contra Kafelnikov. "Já nos primeiros games, deixei Kafelnikov desnorteado. Acho que nunca dei tanta pancada, bordoada e martelada numa partida só, com winner para tudo quanto era lado, um volume de jogo descomunal, incomum para mim naquele piso", comenta o brasileiro, que terminou a carreira com apenas dois títulos em quadras cobertas, a Masters Cup de 2000 e o ATP de São Petersburgo em 20003.
"No segundo set, Kafelnikov começou a forçar mais, mas se ele fazia uma boa jogada, eu fazia três. Parecia que eu estava jogando no clube da minha infância. A plateia também me abraçou e começou a gritar o meu nome".
Especial: 20 anos do Número 1
Em comemoração aos 20 anos da chegada de Gustavo Kuerten ao topo do ranking da ATP, TenisBrasil recorda toda a campanha na Masters Cup de 2000 nos mesmos dias em que cada partida aconteceu até o título no dia 3 de dezembro e sua confirmação como número 1 do mundo no dia seguinte. Também estão previstos depoimentos do ídolo do tênis brasileiro sobre um dos momentos mais marcantes de sua vitoriosa carreira.
Relembre a trajetória de Guga no torneio
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