Das 42 arenas que receberam os Jogos Olímpicos de Tóquio, o Ariake Tennis Park foi um dos vários palcos do evento que não precisou ser construído para as competições e apenas adaptado. O complexo existe desde 1985, sendo que o Ariake Coliseum, com capacidade para 10 mil espectadores e que recebeu a quadra central do torneio, foi inaugurado em 1987 (com o teto retrátil desde 1991).
Além das Olimpíadas, o local também é palco dos torneios ATP e WTA realizados na capital japonesa. Mas não é apenas de tênis profissional que vive o Ariake Tennis Park, que nas demais semanas do ano é aberto ao público. “O complexo pertencei ao governo metropolitano de Tóquio. São quadras de tênis para todo mundo”, disse Nao Kawatei, vice-presidente da Federação Japonesa de Tênis, em entrevista exclusiva a TenisBrasil.
“Qualquer um que quiser pode usar as quadras, muita gente as utiliza durante o ano, inclusive podem jogar na quadra central. É preciso reservar porque as quadras estão sempre lotadas. Fazendo isso, qualquer um pode usar. Até mesmo você!”, complementou Kawatei, que também é o diretor do ATP 500 de Tóquio, evento que não aconteceu em 2020 e também não será disputado em 2021.
O dirigente falou também sobre o cancelamento da edição de 2021 do ATP local e fez um balanço geral do torneio olímpico, que terminou com a coroação do alemão Alexander Zverev e da suíça Belinda Bencic em simples. Kawatei lamentou as condições climáticas às quais os tenistas tiveram que se submeter e garantiu que assim que foi possível a organização acatou o pedido dos jogadores e iniciou as rodadas mais tarde.
Veja como foi a conversa completa com Nao Kawatei:
O que será feito com o complexo depois dos Jogos Olímpicos? Quem cuidará da estrutura do Ariake Tennis Park?
O complexo pertence ao governo metropolitano de Tóquio, mas como integrante da federação japonesa nós recebemos o Japan Open (ATP 500 de Tóquio) aqui e também usamos para o torneio da WTA e eventos nacionais. Muitos torneios juvenis acontecem aqui. Nós usamos continuadamente em parceria com o governo de Tóquio. Mas quando não há torneios, os moradores daqui podem utilizar as quadras, inclusive podem jogar na quadra central. Basta pagar uma taxa para jogar. São quadras de tênis para todo mundo.
Nos períodos em que não há eventos, as quadras são utilizadas para treinos dos atletas ou ficam mais para a população local?
Essas são quadras públicas, não há jurisdição da federação japonesa sobre essas quadras. Qualquer um que quiser utilizar as quadras para o que quiser, basta a liberação do governo de Tóquio. Podem realizar “training camps” ou alugar para algum evento corporativo. Basicamente, muita gente as utiliza durante o ano.
Então se alguém vier aqui depois dos Jogos Olímpicos verá a população local jogando nas quadras?
É preciso reservar porque as quadras estão sempre lotadas. Fazendo isso, qualquer um pode usar. Até mesmo você!
Mesmo eu? Posso usar até a quadra central?
Sim, basta fazer uma reserva que você e qualquer um pode.
Vi que há quadras de piso duro e algumas de grama sintética. Quantas são ao todo no complexo?
Neste momento (na configuração olímpica) temos apenas quadras duras disponíveis, mas assim que os Jogos terminarem e colocarmos as quadras na posição original, porque onde fica uma quadra na verdade são duas, por causa das arquibancadas, teremos 48 quadras incluindo a central e as cobertas. A quadra 2 é a única temporária aqui, as outras voltarão ao normal depois, sendo que 16 serão transformadas em quadras de grama sintética, que é muito popular no Japão. Depois que as Paraolimpíadas terminarem isso aqui voltará a ser um lindo e verde parque público.
A estrutura da quadra 1 também é fixa, não?
Isso, atualmente ela comporta 5 mil espectadores, dois quais 3 mil são permanentes. Colocamos 2 mil lugares. Essa quadra é novinha, foi construída justamente para os Jogos Olímpicos, ficou pronta em 2019. Ela continuará de pé assim como as arquibancadas para 3 mil pessoas.
Além do tênis, a quadra central é utilizada para outros eventos?
Ela é usada para basquete, vôlei e algumas vezes também há shows de música lá. E essa estrutura já é mais antiga, foi construída em 1985.
Que legado vocês esperam que a disputa dos Jogos Olímpicos possa trazer para o tênis?
Nós trabalhamos para encorajar muita gente que nunca teve contato com o tênis a praticar o nosso esporte, principalmente as crianças. Acredito que depois das Olimpíadas possamos ter vários bons tenistas. Como função da federação, tentamos trazer muitas crianças com o método do “play and stay” para os mais novos. A presença de Naomi (Osaka) e Kei (Nishikori) aqui potencializa o nosso trabalho, eles fazem tudo ficar mais rápido.
A federação japonesa utiliza essas quadras ou tem uma estrutura própria?
Nós ficamos juntos com centro olímpico de treino, que fica aqui em Tóquio. Mas lá não temos tantas quadras, são duas quadras sintéticas e duas de saibro todas cobertas. Não é muito, mas temos muitos clubes de tênis por aqui e os jogadores treinam nele. Não temos um grande centro de tênis.
E como vocês fazem para achar os talentos?
Temos treinadores que seguem o desempenho dos jovens através de vários torneios juvenis, um deles o torneio nacional. Pegamos os melhores para treinar conosco e viajar para os torneios fora.
Que balanço você faz do torneio olímpico de tênis?
Nós sempre pensamos em trazer medalhas e sei que isso traz muita pressão. Naomi era a cabeça de chave 2 e Kei vinha do bronze no Rio. Sei que as pessoas queriam vê-los ganhar alguma medalha e eles se esforçaram ao máximo, mas não deu. O mesmo vale para os demais, entre elas a dupla feminina, que perdeu na primeira rodada. O mais importante foi vê-los tentando melhorar o ranking antes dos Jogos Olímpicos para poderem estar aqui e isso é algo que devemos destacar. Sei que estava muito quente aqui, mas todos se esforçaram ao máximo.
Por falar em calor, Novak Djokovic reclamou das condições extremas, disse que nunca encarou tantos dias quentes em sequência. É sempre quente assim aqui nesta época do verão?
Não era o que nós esperávamos. Eu sou japonês e conheço o clima aqui. Se a competição tivesse acontecido em 2020 as condições seriam bem melhores. Choveu bem mais um ano atrás, tanto que talvez o problema fosse não conseguir terminar o torneio. Choveu muito, acho que quatro ou cinco dias inteiros. Felizmente não tivemos a chuva, mas veio o sol forte.
Não checamos tanto a umidade porque nos últimos anos não estava tão úmido. Fazia calor também, mas não tanto como fez agora. Desde julho já sabíamos que o tempo estaria bem quente neste ano e foi o que aconteceu, mas não podemos controlar isso. Tentamos ajudar os tenistas conforme o possível e por isso depois de encerradas as primeiras rodadas, em que havia muitos jogos, conseguimos mudar das 11h para 15h. Foi o que pudemos fazer. Eu também sou o diretor do ATP 500 de Tóquio, que acontece em outubro, quando a temperatura é bem mais agradável.
Como diretor do ATP 500, como foram as conversas sobre a edição deste ano, mais uma que não vai acontecer? Vocês esperam conseguir voltar em 2022?
Neste ano um dos problemas foi em relação a todos os que vem de fora e a quarentena de 14 dias. Poderíamos ter reduzido para três dias, mas ia ser muito difícil. O governo não iria mudar sua regulamentação. Além disso tem as Paraolimpíadas, que terminam em setembro e teríamos apenas um mês para preparar tudo, desmontar as coisas dos Jogos e montar depois de novo para o torneio. Então conversamos com a ATP, dissemos que não poderíamos garantir a entrada sem burocracia em outubro. Toda a Ásia não está fácil, mas estou confiante que teremos o torneio no próximo ano.