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Instrução: piso duro exige treinamento específico
19/07/2022 às 20h11
Wellington Oliveira

Depois de uma exigente fase sobre o saibro e da curta e tão diferente temporada de grama, o circuito internacional volta às quadras duras para um extenso calendário que seguirá de julho até novembro. O ápice é o US Open, o quarto Grand Slam da temporada. O segundo mais antigo dos grandes torneios foi disputado sobre grama até 1974, mudou então para o 'saibro verde' e desde 1978 é disputado sobre pisos sintéticos.

Para amadores e tenista de competição, a chamada 'quadra dura' apresenta algumas desvantagens: A principal é que é uma superfície muito exigente para as articulações do jogador e muitos se machucam. Essas lesões são na maioria causadas pela falta de flexibilidade e maciez dessa superfície. Em termos de velocidade, as quadras duras ficam em algum lugar entre grama e saibro. O material usado na construção de quadras duras nos Estados Unidos é geralmente chamado de Decoturf e geralmente é verde ou azul. Um material chamado Plexicushion, que é um pouco mais lento, agora é usado na Austrália.

Além dessas características, as quadras duras em geral também são econômicas porque se tornam mais baratas de construir e quase não requerem manutenção. A superfície acrílica oferece o salto de bola mais consistente de qualquer quadra de tênis ao ar livre.

No tênis moderno, as diferenças e sutilezas de cada superfície tendem a desaparecer. As habilidades atléticas e cardiovasculares estão se tornando cada vez mais importantes, mas alguns jogadores continuam especialistas em quadras duras.

Vejamos alguns pros e contras sobre se jogar tênis nas quadras sintéticas:

Prós
- Baixa manutenção: quadras duras são fáceis e baratas de manter.
- Longevidade: é uma superfície de quadra de tênis duradoura.
- Padrão: são uma superfície suficiente neutra que se adapta a todos os estilos de jogo.
- Salto perfeito: sem impacto na trajetória da bola.

Contras
- Difícil para o corpo: força e resistência altamente recomendadas.
- Superfície não são adequadas para jogadores mais velhos.

 
 
 
 
 
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Exigências das quadras duras
Sendo a superfície mais comum no circuito profissional, as quadras duras são essenciais para qualquer aspirante. A resistência física e a solidez, junto com um benévolo saque, podem medir um extenso caminho, mas é preciso se certificar de condicionar suas sessões de treino de acordo com o piso.

Sabemos que as quadras de saibro proporcionam jogos mais lentos e com longas trocas de bolas e como na grama o jogo fica mais rápido e acelerado. Então a pergunta é: qual preparação seria ideal para ter um bom desempenho em uma quadra dura?

Particularmente nos Estados Unidos, as quadras sintéticas são mais comuns. Quase em todos os lugares há uma quadrinha para se praticar. Podemos ver na história do tenis que muitos jogadores norte-americanos têm facilidade de jogar nesse piso. Então, qual seria a ideia e técnicas aplicadas na formação desses atletas, o que os treinadores americanos utilizam para que eles consigam desenvolver e aperfeiçoar o jogo em uma quadra com essas características?

Partindo dessa premissa, fui buscar entender e fiz uma pesquisa para tentar moldurar como é a preparação básica para o piso duro. Pegaremos como exemplo Nate Oppenheim, de 26 anos. Nascido na Califórnia, tem 1,98m de altura. Iniciou-se no tênis com 7 anos de idade, através do incentivo dos pais e amigos. Com 11 anos, treinava todos os dias após a escola e a vontade de seguir carreira no esporte foi aumentando. Aos 15, já com alto nível, começou a ver a possibilidade de entrar em uma boa universidade e focou seus esforços para isso acontecer. Ingressou na Universidade Sonoma, que figura na divisão 1, e se tornou o número 1 da equipe. Teve então que mudar um pouco seu caminho para se dedicar aos estudos e ao final retomar a busca do profissionalismo.

Atualmente, faz treinos diários de 6 horas com seções de quadra, condicionamento físico e mental. Tem sido parceiro de treino do grande amigo Jason Brooskby, que já está entre os top 40 do ranking. Eles treinam juntos de 2 a 3 dias na semana.

A rotina de treino e as dicas de Nate
Falando do trabalho físico, qual objetivo você busca na preparação para jogar em quadra dura?
Nate: Busco trabalhar todo o corpo, mas acredito ter um foco em alguns pontos mais específicos como, equilíbrio, estabilidade e força. Minha vida toda aprendi que para eu conseguir ter um desempenho diferenciado em quadras duras devo treinar muito bem minhas capacidades físicas. O trabalho de força é um dos aspectos para o qual dou muita ênfase, já que é um jogo com muitas arrancadas e mudanças de direções, portanto, preciso estar forte para conseguir executar tanto as saídas como as voltas o mais rápido possível.

Você poderia falar um pouco dos exercícios que você utiliza e faz para desenvolver suas capacidades?
Nate: Cada dia trabalho um fator especifico, mas sempre começo com mobilidade, trabalhando membros superiores e inferiores. Segundas e quartas feiras na parte da manhã, trabalho bastante estabilidade e fortalecimento da parte superior. Na parte da manhã, meu treinador me passa muitos exercícios com elástico e um pouco de carga. Já na parte da tarde, vou para academia e trabalho bastante força nos membros inferiores, com carga muito mais elevada em comparação ao trabalho nos membros superiores. Terças e quintas feiras foco muita movimentação e resistência. Começo o dia com mobilidade, faço sempre um bom aquecimento antes de começar os exercícios específicos. Na terça de manhã, trabalho muitos deslocamentos na quadra, faço muitos exercícios com mudança de direção e muitos passos curtos. Nesse dia, faço um trabalho muito técnico, meu treinador faz correções na minha corrida em diferentes direções. Já na parte da tarde trabalho seções de tiros de velocidade curtos e longos. Na quinta feira, início com mobilidade e um bom aquecimento, trabalho exercícios pliométricos na caixa com foco na força explosiva. Já na parte da tarde, fazemos muita saída e volta em diferentes direções, meu treinador usa medicineball e elástico e tensão no meu abdômen para o exercício ser mais resistente. E as sextas feiras ficam para uma corrida na parte da manhã em torno de 5 km e na parte da tarde tenho uma seção de massagem e soltura.

Falando um pouco sobre a questão técnica, o que você poderia me dizer sobre o trabalho técnico. O que seu treinador entende como sendo de extrema importância para jogar em quadra dura?
Nate: Quando iniciei no tênis, meus treinadores me passavam o básico do tênis, direita, esquerda, voleios e saques. Com o passar do tempo fui demonstrando mais vontade e comecei a fazer aulas individuais para complementar o treino em grupo. Nesse período comecei a trabalhar mais focado, mas nada de diferente ou extraordinário. Hoje em dia, meu treinador procura fazer um treino mais focado respeitando minhas características mecânicas. Como sou alto, preciso trabalhar muito para manter a base bem aberta e baixa. Nos treinos diários trabalho muito como devo estar antes, durante e após a batida. Como tudo, o foco principal é desenvolver uma base sólida, equilibrada e baixa para fazer boas transferência de energia contra a bola.

Qual é a estratégia mais trabalhada na quadra dura?
Nate: Procuro trabalhar um contexto geral. É importante ter as habilidades e os planos de jogo em dia. Com a minha estatura e envergadura, trabalho muito saque e primeira bola, muitas vezes saque e direita. Aproximação à rede com approachs, voleios e overheads. A ideia é sempre tirar tempo do adversário e ganhar espaço para finalizar os pontos. Uma das coisas que gosto de trabalhar, e que segundo meu treinador é muito importante, são as bolas anguladas. Faço seções de bolas abrindo a quadra em todos os treinos, tanto sacando como devolvendo. São bolas que facilitam a minha entrada na quadra para finalizar os pontos.

 
 
 
 
 
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Como você trabalha o seu mental, como você pensa durante as partidas?
Nate: Busco ser paciente e tranquilo, mas procuro ser muito intenso e focado em cada bola. Trabalho o mental com um psicólogo do esporte e converso muito com meu treinador. Para praticar a questão mental, gosto de jogos que demandam o máximo da minha concentração. Leio, sobretudo livros, escuto podcast relacionados ao trabalho mental e adoro jogar xadrez. Mas eu entendo que para eu jogar bem preciso estar relaxado e tranquilo, e isso também é treinado.

Finalmente, Nate enfatiza que o treino vai depender do momento, se está próximo dos torneios, se está em pré-temporada, buscando melhorar sua força e resistência. "Para obter sucesso, o ideal é ter um bom planejamento, sempre seguindo a periodização feita por sua equipe. Tudo é treinado, e o foco sempre será jogar bem e para isso acontecer trabalho duro todos os dias, confio na minha equipe e acredito que eles sabem o que é melhor pra mim".

Wellington Oliveira é paulista de Mogi das Cruzes,
onde iniciou sua carreira de treinador e se formou em
Educação Física. Fez cursos de especialização na
Gorin Tennis Academy, no estadi da Califórnia, e
atualmente dirige a Pro Tennis Team.
Para contatar o treinador, escreva em
wellington_tenis@hotmail.com.

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