Barcelona (Espanha) - A jogadora russa Daria Kasatkina teve a oportunidade de falar abertamente sobre sua vida pessoal e as dificuldades que ela e outras pessoas da comunidade LGBTQ+ sentem quando estão na Rússia. A tenista de 25 anos e atual número 12 do mundo já havia declarado há pouco mais de um ano que aceitaria namorar outra mulher, mas pela primeira vez pôde tratar do assunto de forma mais ampla, ao assumir um relacionamento e expor o preconceito que sofre em seu país de origem. A Rússia tem leis que restringem os direitos da população LGBTQ+, com cancelamento de eventos e até mesmo a prisão de ativistas.
"É ridículo dizer que alguém escolhe ser gay, porque o mundo é muito mais fácil para quem é heterossexual. Se existisse escolha, ninguém ia querer ser gay, porque a vida é mais difícil, especialmente na Rússia", disse Kasatkina, numa entrevista em russo para o vlogger Vitya Kravchenko.
Daria Kasatkina speaks about the difficulties of being gay in Russia pic.twitter.com/guNLUStx17
— Ryan (@Some1NamedRyan) July 18, 2022
Perguntada se alguma vez já havia andado de mãos dadas na Rússia com sua namorada, a patinadora Natalia Zabiiako, ela respondeu que "nunca" e complementou: "Muitos assuntos são tabus na Rússia. Nós até tivemos alguns avanços há pouco tempo, quando a Rússia recebeu a Copa do Mundo e estávamos mais próximos do Ocidente, mas pensando nas coisas que estão acontecendo agora, nunca vai ser ok".
"Viver no armário é impossível e não faz sentido. Você fica constantemente focada nisso até conseguir se declarar. É claro que fica a seu critério sobre como fazer isso e o quanto você quer contar. Mas viver em paz consigo mesma é o que importa, não interessa o que as pessoas pensam", complementou a semifinalista de Roland Garros.
"Acredito que é importante que pessoas influentes do esporte, ou de qualquer outra esfera realmente, falem sobre isso”, acrescentou Kasatkina, que foi inspirada pela jogadora de futebol Nadya Karpova, que se assumiu homossexual no mês passado. "Nadya não apenas se ajudou tirando esse fardo do peito, como também ajudou outras pessoas. É importante para os jovens que têm dificuldades com a sociedade e precisam de apoio".
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Sensação de impotência sobre a guerra na Ucrânia
Kasatkina também falou sobre a guerra na Ucrânia e suas consequências também no mundo do esporte. Os jogadores russos e de Belarus foram banidos de Wimbledon e de outros torneios na Inglaterra, e estão atuando sob bandeiras neutras e sem o uso de símbolos nacionais no restante da temporada. Além disso, as equipes dos dois países também foram suspensas das Copas Davis e Billie Jean King.
"Eu faria tudo o que fosse possível para parar essa guerra, mas é impossível. Nós não podemos fazer nada. Não podemos mudar o que está acontecendo. Você se sente impotente por isso. Quem sou eu? Sou apenas a Daria Kasatkina, de 25 anos, que joga tênis".
"Quero poder enfrentar jogadoras que tenham a oportunidade de treinar e se preparar para os torneios da mesma forma que eu, sem ter a preocupação se a casa ou a academia onde você treina pode ser bombardeada. Sei o quanto é importante ter para onde ir, não importa se você jogou bem ou mal, se você terminou com a namorada ou o namorado, não importa o que acontecer na sua vida. Eu não consigo imaginar o que viver sem ter uma casa", comenta a russa que também se emocionou ao pensar na possibilidade de não poder voltar ao país após a repercussão de suas declarações. "Sim, eu pensei sobre isso".
Daria Kasatkina says she would give anything for the war to stop. She cries as she contemplates the possibility of Russia not allowing her back in the country now that she has come out as gay. pic.twitter.com/mE0Wu5K7vL
— The Tennis Letter (@TheTennisLetter) July 18, 2022