Notícias | Dia a dia
Dolgopolov vê os tenistas russos como inimigos
18/12/2022 às 09h28

Kiev (Ucrânia) - Um dos mais habilidosos tenistas de sua geração, Alexandr Dolgopolov deixou a vida cheia de glamour do tênis de 18 meses atrás para lutar na guerra que a Ucrânia faz para expulsar os invasores russos. Em longa entrevista ao diário britânico Daily Mail, o ex-número 13 do ranking contou sobre sua participação e dificuldades como soldado.

No mês passado, Dolgopolov estava logo atrás da linha de frente em Kherson, com condições de vida muito distantes do ambiente dourado do torneio de tênis. "O lugar tinha ratos correndo por toda parte. Não havia banheiro e o jeito era usar um buraco. Não tem água quente então tem que esquentar um pouco para se lavar”, conta.
"Era uma aldeia abandonada e havia apenas uma velhinha lá que nos alimentava com uvas".

Quando a invasão russa começou, Dolgopolov estava na Turquia e aproveitava a vida fora do circuito. Assim que a guerra estourou, ele rapidamente tomou a decisão de se voluntariar para o exército: "Senti que tinha que fazer isso, tenho que participar disso. Quando começou, a maioria das pessoas não acreditava que isso pudesse acontecer, que seríamos atacados e eles realmente nos atacariam de várias direções e tentariam tomar nosso país.

Desde março eu já estava me preparando, entendendo que precisariam de mim. Eu nunca havia tocado em uma arma antes - talvez como uma vez eu fui atirar, mas foi isso. E desde então, fiz talvez 10.000 tiros de arma de fogo", revela, sem mostrar constrangimento sobre ter de matar.

"A guerra é uma bagunça", diz ele, cujo principal papel na guerra é ser operador de drone em uma unidade móvel da inteligência militar da Ucrânia. "Parte do que fazemos é coleta de informações. Mas também lutamos, temos pessoas diferentes em nossa unidade para que possamos realizar tarefas diferentes. Estou trabalhando principalmente com os drones e faço outras coisas. ‘Este conflito é mais sobre táticas e luta de artilharia, e nem sempre é uma conexão cara a cara. Temos morteiros, drones e diferentes tipos de armas que podem realmente feri-los sem entrar em contato com eles ao vivo. Nós os vemos, atiramos à distância, mas a única forma de contato é se tivermos uma tarefa para liberar algo ou entrar em posições, o que ainda não aconteceu comigo".

Dolgopolov conta que encarou bem seu papel e que o dia a dia das ações militares acabaram se tornando rotina. “Não me assusto tão facilmente. Quero dizer, se você for emocional todos os dias, seria muito assustador lá no front. Uma vez que estamos em uma missão quase todos os dias, você vai em direção à linha onde está a um ou dois quilômetros o inimigo. Aviões estão sobrevoando, pessoas estão atirando morteiros. Então você se acostuma e apenas tenta se manter seguro".

O ucraniano não perdoa os tenistas russos por sua falta de comprometimento com a paz e críticas à invasão. Ele aplaude Wimbledon pela decisão de impedi-los de disputar o torneio. "Não é como se essa decisão mudasse a guerra. É apenas uma forma de mostrar a reação do mundo." E diz saber que alguns jogadores apoiam Vladimir Putin. ‘Não vejo nenhuma possibilidade de voltarmos a ser amigos, a menos que eles realmente falem contra o que está acontecendo. Os tenistas não se manifestaram, mas sabemos que alguns deles apoiam a guerra, infelizmente. Até que digam que são contra, eu os vejo como inimigos”.

Alex não está otimista sobre o fim das hostilidades em seu país: “Não sei, precisamos de armas. Acho que é apenas uma questão de quando conseguirmos armas suficientes para libertar o resto do nosso país".

Comentários