O dono cada vez mais absoluto do tênis
Por José Nilton Dalcim
19 de novembro de 2023 às 20:33

Depois de ficar ameaçado de não seguir em Turim para o fim de semana, Novak Djokovic parece ter decidido colocar em prática o seu melhor tênis. Em dias consecutivos, enfrentou garotos de grande qualidade, peso de bola, pernas velozes e saque contundente. Os dois aliás mais cotados para sucedê-lo na ponta do ranking. E o que se viu foi um show de firmeza, capacidade atlética, soluções táticas e cabeça fria. Muito perto de sua mais apurada versão, Nole não deu chance à novíssima geração.

O primeiro set diante de Jannik Sinner foi assombroso. Depois da derrota de dias atrás, em que foi sufocado pelos golpes rápidos do italiano, Djokovic entrou preparado para colocar sempre uma bola a mais. Cometeu dois únicos erros não forçados, nenhum deles com o forehand. Não menos notável foi sua produção no saque. Nos primeiros sete games de serviço do sérvio, Sinner só conseguiu ganhar dois lances. Não tinha jogo e de repente o sérvio já tinha 2/0 no segundo set e por um milagre não obteve outra quebra.

Enfim, a torcida italiana, creio eu embasbacada ao ver seu garoto prodígio encurralado, conseguiu um pouco de emoção. Foi até uma pena que Sinner não tenha aproveitado o 15-40 que lhe daria empate no sexto game e esquentaria a partida, mas o fato é que Nole tirou muito cedo a confiança do adversário e assim capitalizou as decisões precipitadas e mal construídas, que se repetiriam no 0-30 no oitavo game. Sinner sucumbiu com dupla falta e um total tenebroso de 17 erros não-forçados de forehand.

Aos 36 anos, 5 meses e 22 dias, Djokovic bateu a própria marca de mais velho campeão do Finals e deu uma nova lição aos emergentes. “Tive de ir atrás das vitórias e não apenas esperar que eles me dessem isso. E foi o que fiz”, definiu com habitual propriedade. “Foi sem dúvida uma das melhores temporadas da minha vida”.

Nole completa o calendário com 55 vitórias e apenas seis derrotas, somando três Grand Slam e dois Masters entre os seis troféus erguidos. Nesta segunda-feira, terá incríveis 2.390 pontos sobre Carlos Alcaraz, que há poucas semanas era uma ameaça à continuidade do seu reinado.

Diante da terceira geração de competentes postulantes a grandes marcas e títulos, Djokovic deu uma mostra exuberante em Turim de que é o dono absoluto do tênis masculino:

  • 24 títulos de Grand Slam
  • 7 conquistas do ATP Finals
  • 40 troféus de nível Masters
  • 71 ‘grandes títulos’
  • 400 semanas como número 1
  • 8 temporadas encerradas como líder do ranking
  • US$ 180 mi em prêmios oficiais
  • 71 títulos na quadra dura (com Federer)
  • Ao menos 3 títulos em cada Slam
  • Ao menos 7 finais em cada Slam
  • 9 diferentes troféus de Masters (com Lendl)
  • 36 finais disputadas em Slam
  • 58 finais feitas em Masters
  • 47 semifinais de Slam
  • 76 semifinais de Masters
  • Ao menos 10 semifinais em cada Slam
  • Mais vitórias sobre top 5: 124
  • Mais vitórias sobre top 10: 257
  • Maior número de adversários diferentes vencidos em Slam: 189
  • Semanas seguidas como número 3: 92
  • Mais velho campeão do ATP Finals
  • Mais velho a terminar temporada como número 1
  • Máximo pontos no ranking: 16.950 (2016)
  • Maior diferença para um número 2: 9.025 pontos (2016)

E contando.

Saiba mais

  • Djokovic repetiu a façanha de 2015, quando também perdeu para Roger Federer na fase de grupo e depois se vingou na partida decisiva.
  • O ano e as ambições ainda não terminaram para Nole. Ele segue para Málaga, onde estreia na quinta na fase final da Copa Davis contra a Grã-Bretanha, sem Andy Murray. A Sérvia tem um único título na competição, em 2010, já sob comando de Djokovic.
  • Sinner pela primeira vez encerrou uma temporada com mais de 60 vitórias. Foram 61 em 76 possíveis, com direito a seu primeiro troféu de Masters.
  • Djokovic fechou o Finals com 50 aces em cinco jogos, a maior quantidade para um torneio regular de três sets de sua carreira.
  • Rajeev Ram e Joe Salisbury marcaram a 10ª vitória seguida em Turim e garantiram o bi no Finals, com vitória sem sustos diante de Marcel Granollers e Horacio Zeballos.
  • Com isso, Austin Krajicek e Ivan Dodig terminam a temporada como parceria que mais somou pontos e Krajicek, como número 1 da especialidade.

Desafio das camisetas
Quatro internautas ‘gabaritaram’ o Desafio do ATP Finals, acertando as exatas semifinais, a final e o campeão de Turim. Todos receberão uma camiseta ‘TenisBrasil 25 anos’, devendo enviar seus dados de correio e número de camiseta aqui no do email joni@tenisbrasil.com.br.

A ordem dos vencedores foi definida pelo placar da partida final e Sandro Mateus Gonçalves da Silva saiu-se notalvelmente bem, errando por um único game! Em segundo, ficou Hiroito Onotera, seguido por Marcos Ribeiro e Thierry. Parabéns a todos.

Revanche ou afirmação em jogo
Por José Nilton Dalcim
18 de novembro de 2023 às 20:27

Novak Djokovic desfilou como o autêntico número 1 do mundo, Jannik Sinner manteve a invencibilidade e derrotou o quarto top 8 em sete dias em semifinais antagônicas no ATP Finals. Para delírio da torcida, está marcado o reencontro entre o renovado garoto italiano e o supercampeão às 14 horas deste domingo.

Para Sinner, vale o maior título da carreira e a afirmação definitiva de seu potencial, moldada numa nova e mais ousada postura tática em quadra, o que por sua vez exigiu muito trabalho técnico. Para Nole, a chance de se isolar em mais um recorde gigante no tênis, o hepta do Finals.

Djokovic lidera o histórico contra Sinner por 3 a 1, mas isso parece importar bem menos do que a partida de quatro dias atrás. Foi um duelo intenso, decidido por um par de bolas para cá ou para lá, em que o público teve um peso importante na missão de empurrar seu compatriota. Sinner então sacou muito e correu riscos, tática que não pode ser diferente sobre o piso veloz.

Mas seu adversário vem de uma exibição magistral diante do vice-líder do ranking Carlos Alcaraz. O jogo foi muito mais exigente do que indica o placar de 17 games e a forma com que Djokovic ditou o ritmo e acima de tudo aprofundou a bola determinou a larga vantagem. Outra vez, o espanhol fez escolhas ruins em momentos essenciais e pouco a pouco sucumbiu aos erros (22 a 8, sendo 13 a 3 no segundo set) diante de uma muralha sérvia que achava contragolpes e trocas de direções desconcertantes. Um desavisado não saberia dizer qual era o tenista que tinha 20 ou 36 anos.

Sinner por sua vez obteve a terceira vitória seguida sobre Medvedev, todas em piso sintético e a segunda em quadra coberta, o que ratifica sua evolução nesta reta final de temporada. Até Pequim, o russo havia vencido os seis duelos anteriores, incluindo duas finais, mas encontrou agora um Sinner com saque aprimorado, capacidade de defesa ampliada e muito mais determinação ofensiva.

Se Djokovic quer celebrar suas duas grandes façanhas da semana – a oitava temporada encerrada como número 1 e a 400ª semana na ponta – com o 98º troféu da carreira em 138 finais disputadas, abrindo aliás outra grande expectativa para 2024, Sinner ainda está na 14ª decisão de sua curta jornada profissional e tenta o 11º troféu, que pode ser o primeiro de um italiano nas 54 edições do Finals.

Saiba mais

  • Esta foi a terceira vitória de Djoko sobre Alcaraz nos quatro duelos da temporada, repetindo Roland Garros e Cincinnati. O espanhol ainda não ganhou do sérvio na quadra dura.
  • Medvedev encheu Sinner de elogios, destacando consistência e cobertura de quadra. E acredita que o italiano ganhará logo seu Slam e chegará ao número 1.
  • Rajeev Ram e Joe Salisbury irão defender o título do ano passado. Os atuais tricampeões do US Open enfrentarão Marcel Granollers e Horácio Zeballos, que podem terminar o ano como a melhor parceria. Granollers ganhou o Finals de 2012.
  • As duplas tiveram cinco Finals a menos e por um bom tempo foram disputadas em locais separados. Desde 2003, simples e duplas foram reintegrados.
  • Apenas John McEnroe e Stan Smith ganharam o Finals nas duas especialidades e na mesma edição. Big Mac em 1978, 1983 e 1984 e Smith, em 1970.
Semifinais de luxo em Turim
Por José Nilton Dalcim
17 de novembro de 2023 às 19:55

O que pode haver de melhor no tênis do que os quatro melhores do mundo na disputa de um título? Esta edição do ATP Finals de Turim não teve um nível tão espetacular, ainda que ao menos três jogos tenham sido de tirar o fôlego, porém encerrará a temporada com semis e finais de luxo. Pena que nenhum desses duelos tenha chance de mexer no ranking, mas não se pode querer tudo.

Ironicamente, o hexacampeão Novak Djokovic foi quem esteve mais perto da inesperada eliminação entre os grandes favoritos. Apesar do jogo duro contra Hubert Hurkacz, ele justificou o favoritismo num terceiro set em que sobrou em quadra e aí precisou contar com o enorme esforço de Jannik Sinner e com a bobeada de Holger Rune em lance capital para garantir seu lugar na penúltima rodada.

Sinner já fez os dois grandes jogos deste Finals, vencendo Djokovic e Rune em duelos muito apertados, em que apostou tudo na postura ofensiva e foi mentalmente muito forte. O terceiro set contra o dinamarquês exigiu também superação diante de um desconforto lombar. O italiano deu pequena queda de qualidade, mas teve chances de quebra em dois games antes de enfim viver o grande drama da noite, com 3/4, break-point e segundo serviço no backhand do adversário, que exagerou ao tentar a paralela e jogou a devolução e a possível vaga para fora.

Já o avanço de Carlos Alcaraz teve pouca emoção, até porque Daniil Medvedev por vezes mostrou uma certa economia de esforço. O espanhol começou mais vacilante, evitou um 15-40 logo no quarto game, mas pouco a pouco achou a consistência necessária lá da base e fez magníficas transições à rede. Era um tanto provável que sua vitória no primeiro set desmotivaria o russo. Medvedev no entanto seguiu sacando bem até enfim ceder a quebra definitiva. Os pontos mais positivos para o espanhol foram o bom índice de 73% de acerto do primeiro saque e os 56% de devolução do segundo serviço.

É leviano afirmar que Medvedev escolheu o adversário deste sábado. Arrisco ainda assim a dizer que, mesmo perdendo US$ 390 mil, uma heresia para qualquer tenista, ele pode muito bem ter avaliado que enfrentar um duvidoso Sinner, contra quem possui a considerável vantagem histórica de 7 a 2 nos confrontos, seja muito mais negócio do que reencontrar Djokovic e o recorde negativo de 5 a 9.

Ao mesmo tempo, me parece arriscado garantir que a vitória desta sexta-feira tenha trazido a Alcaraz a confiança necessária para o quarto duelo do ano contra Nole. O piso mais veloz é bom para os dois, embora a devolução do sérvio seja claramente superior, lhe conferindo portanto favoritismo. Apesar de ter tido um dia a mais de descanso, o que é valioso nesta altura do campeonato, o sérvio vem de três partidas duras no aspecto físico e emocional e tal desgaste pode ser outra aposta do espanhol.

Saiba mais

  • Único invicto na fase de grupos, somente Sinner pode chegar ao prêmio recorde do tênis e embolsar US$ 4.801.500 no domingo. Todos os demais concorrem a US$ 4.411.500.
  • Ao contrário do torneio individual, os líderes do ranking de duplas foram eliminados e assim Austin Krajicek pode perder a liderança caso Rohan Bopanna e Matthew Ebden sejam campeões.
  • Eles enfrentam Marcel Granollers e Horacio Zeballos, única parceria a se manter invicta e portanto ainda concorrente ao prêmio máximo de US$ 943.650. Granollers venceu o Finals de 2012 ao lado de Marc López.
  • A outra semi de duplas terá Rajeev Ram e Joe Salisbury, os atuais campeões, contra Santiago González e Edouard Roger-Vasselin.
  • Roger Federer permanece como aquele que disputou mais edições (17) e soma mais vitórias (59) e finais (10). Djokovic tenta sua nona final e soma agora 48 triunfos.
  • John McEnroe é o mais jovem campeão tanto em simples como em duplas, ambos em 1978 quando ele somava 19 anos e 10 meses.