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Westrupp: 'Tenistas banidos escolheram o caminho'
15/11/2023 às 21h26

Presidente da CBT falou sobre as ações da entidade para coibir casos de doping e manipulação de resultados

Foto: Luiz Cândido/CBT
por Mário Sérgio Cruz, de Brasília

As recentes suspensões e até mesmo banimentos de tenistas brasileiros por casos de doping ou envolvimento com apostas e manipulação de resultados estão sendo observados de perto pelas autoridades do esporte no país. É o que diz Rafael Westrupp, presidente da Confederação, que citou algumas iniciativas que estão sendo tomadas pela entidade para coibir esses casos e reeducar jovens jogadores e também os profissionais em atividade.

Nos últimos sete anos, o país teve mais dez ocorrências de jogadores suspensos por doping e dois atletas estão atualmente afastados do circuito por isso. Nas maioria dos casos, foi apresentada a justificativa de contaminação cruzada de suplemento alimentar por farmácias de manipulação. "Acredito que tenha sido um aprendizado geral com relação às farmácias", disse Westrupp, em entrevista a TenisBrasil durante o confronto entre Brasil e Coreia do Sul pela Billie Jean King Cup em Brasília no último fim de semana.

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"Os atletas se reúnem com nossa equipe jurídica, que vem apresentar todas essas questões, principalmente do programa anticorrupção. Tivemos um encontro com o Comitê Olímpico do Brasil, com toda a equipe de saúde para tratar a questão do doping. É uma preocupação e um trabalho que a gente faz junto à ABCD (Agência Brasileira de Controle de Dopagem). Todos os materiais que recebemos deles são encaminhados à comissão de atletas", acrescentou o dirigente.

Já a respeito dos três banimentos do tênis brasileiro, dos jogadores João Souza e Diego Matos além do técnico Pertti Vesantera por manipulação de resultados, o presidente afirmou que "A Confederação lamenta, mas são pessoas que escolheram esse caminho e hoje estão pagando o preço" e defendeu o rigor das agências de controle do programa anticorrupção do tênis.

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Também presidente da Confederação Sul-Americana de Tênis (Cosat), Westrupp também falou sobre as recentes mudanças de formato e modelo de disputas das copas Davis e Billie Jean King e a visão institucional do tênis brasileiro nas votações junto à Federação Internacional (ITF).

O dirigente também falou sobre a relação institucional da CBT com o Ministério do Esporte e o Governo Federal, citando o recente caso dos três atletas do tênis em cadeira de rodas, Ymanitu Silva, Leandro Penna e Daniel Rodrigues, que precisaram ser trazidos de Israel para o Brasil após os atentados do Hamas no país e a escalada dos conflitos no Oriente Médio. "Foi uma mobilização por três entidades muito importantes, o Ministério do Esporte, o Comitê Paralímpico Brasileiro e a Confederação. Então a gente deu as mãos para solucionar aquela situação".

Esta é a segunda parte da entrevista de TenisBrasil com Rafael Westrupp. No primeiro trecho, publicado na última terça-feira, o dirigente fala sobre o cenário do tênis feminino no Brasil e a possibilidade de o país voltar a receber torneios do circuito da WTA.

Confira a segunda parte da entrevista com Rafael Westrupp.

Como presidente da CBT e da Cosat, que avaliação você tem para as recentes mudanças de formato que a gente teve da Davis e da Billie Jean King Cup? Numa avaliação pessoal sua e também institucional, você considera que isso foi positivo ou impacta positivamente para o Brasil?
Venho participando das reuniões e assembleias gerais da ITF desde o tempo em que estava trabalhando como superintendente da CBT. E a gente entendeu que Federação apresentou uma realidade naquele momento que era necessário fazer uma mudança, principalmente na questão financeira e na remuneração dos atletas e também das jogadoras da Billie Jean King Cup. Então, com todo esse momento de equidade de gênero e de proporcionar as mesmas condições para homens e mulheres, a gente entendeu enquanto assembleia essa necessidade.

Quando você tem uma Copa do Mundo, e as maiores competições entre países do mundo são a Copa Davis e a Billie Jean, tem mais de 150 países disputando ao mesmo tempo. E na verdade, elas só mudaram estruturalmente para 18 países. Para os outros, continua igual, você joga em casa e fora, mas com volume financeiro maior, onde você remunera diretamente o atleta. Hoje o nosso time da Billie Jean King Cup é remunerado, elas jogam pelo país, mas são pagas com o prize-money e isso aumentou nos últimos anos após essas mudanças.

Na fase final da Davis tivemos problemas com relação à falta de público em confrontos sem os times da casa ou problemas também com os horários. Há possibilidade de rever essas mudanças, ou voltar para o formato anterior, talvez não com os cinco sets, mas com jogos dentro e fora?
Se no futuro, vai haver algum ajuste, eu não tenho essa informação. Não sei qual é a intenção da ITF com relação a isso, mas a gente entende que já existe uma adaptação a essa nova cultura. E com relação à programação, é uma questão que não é exclusiva da Davis. Vimos o Masters 1000 de Paris agora, com jogos até a madrugada, a gente sabe de outros torneios que enfrentaram esse tipo de situação. E tem vários fatores envolvidos como horários de televisão e divisão de sessões de ingressos. Às vezes você tem que colocar dois jogos na sessão noturna, às vezes o último da diurna atrasa ou chove. Mas acredito que é uma questão equacionada.

Eu queria saber se a CBT e também a Cosat tem algum programa de prevenção e educação com relação a casos de doping, envolvimento com apostas ou manipulação de resultados. A gente tem no momento dois tenistas brasileiros suspensos por doping [Igor Marcondes, por três anos, e Victor Bini, por 13 meses] e tivemos dez casos nos últimos anos. Também foram três banimentos, dois jogadores [João Souza e Diego Matos] e um técnico [Pertti Vesantera] por manipulação de resultados. Então quero saber se existe algum programa com os jovens e também para os tenistas em atividade para prevenir que esse tipo de coisa não se repita.
A Confederação faz um encontro anual de treinamento, todo final de ano desde 2017, onde não é só um trabalho em quadra ou trabalho físico dos atletas. São feitas palestras todas as noites, ao final dos treinamentos. E uma delas é sempre com nossa equipe jurídica, que vem apresentar todas essas questões, principalmente do programa anticorrupção e da manipulação de jogos. É um trabalho de conscientização e uma apresentação técnica e jurídica a respeito disso.

Nós tivemos em uma das reuniões, um encontro com o Comitê Olímpico do Brasil, com toda a equipe de saúde para tratar a questão do doping. É uma preocupação e um trabalho que a gente faz junto à ABCD (Agência Brasileira de Controle de Dopagem). Todos os materiais que recebemos deles são encaminhados à comissão de atletas.

E em relação aos fatos ocorridos, principalmente dos banimentos, a Confederação lamenta, mas são pessoas que escolheram esse caminho e hoje estão pagando o preço. O esporte tem que ter sempre essa fiscalização da TIU (Tennis Integrity Unit) e agora da ITIA (International Tennis Integrity Agency) e é fundamental agir com rigor, porque o esporte precisa ser limpo. Esse tipo de atividade tem que ser combatido cada vez mais. Então, apoiamos todas as iniciativas de órgãos de controle em relação a isso.

A maioria desses casos de doping foi justificada como contaminação cruzada de suplemento alimentar por farmácias de manipulação. Foi a principal linha de defesa dos atletas. E inclusive, como muitos casos aqui do Brasil tiveram essa justificativa, estamos vendo penas cada vez maiores. Se um jogador brasileiro é pego hoje, tem uma pena maior que alguém suspenso cinco atrás pelo mesmo motivo. A CBT tem alguma orientação sobre esse tema da suplementação e das farmácias?
Os atletas têm as suas equipes. E eu, pelo menos, acredito muito que foi apenas a contaminação nas situações citadas. Acredito que tenha sido um aprendizado geral com relação às farmácias. Mas, de novo, os atletas têm as equipes técnicas deles, os fisiologistas e fisioterapeutas, os médicos. E são eles que conduzem essa parte de saúde dos atletas. Então, a Confederação não tem nenhuma ingerência sobre escolha das farmácias A ou B.

A gente vive em um país muito polarizado politicamente, vimos isso nas últimas eleições e em eventos extremos como o 8 de janeiro. Com relação a eventuais postagens que os atletas fazem nas redes sociais, existe alguma orientação ou preocupação da CBT a respeito de comentários que possam afetar negativamente a imagem do tênis?
A Confederação não interfere em nada. São pessoas adultas e cada um assume a suas responsabilidades e seus atos. Acho que a gente vive numa democracia e tem que respeitar as opiniões de cada um. É importante dizer que a Confederação é muito democrática, hoje tem uma comissão de atletas que participa da assembleia geral, com participação nas votações. É uma instituição com processo eleitoral aberto. Então a gente respeita a democracia, e cada um tem seus atos e suas consequências.

E qual é a relação da Confederação hoje com o Ministério do Esporte? É uma pasta que voltou a ter status de ministério no governo atual e que teve uma recente troca de comando também. Como está sendo a relação com a equipe atual?
A gente tem uma relação extremamente republicana com o Ministério, e mesmo no governo anterior que era uma secretaria vinculada ao Ministério da Cidadania. Depois no governo atual foi recriado o Mninistério do Esporte. A Confederação não atua em qualquer convênio com os ministérios desde 2017, na nossa gestão. Mas existe uma relação institucional muito positiva.

Eu visitei a ex-ministra, Ana Moser, aqui em Brasília, apresentei um relatório de atividades de 2022. A troca de comando foi muito recente, a gente está envolvido com o Pan-Americano e o Parapan, mas já tive o primeiro contato com o atual ministro André Fufuca. Foi uma situação em que ele nos ajudou muito no caso dos três tenistas que estavam em Israel quando começou a guerra. Foi uma mobilização por três entidades muito importantes, o Ministério do Esporte, o Comitê Paralímpico Brasileiro e a Confederação. Então a gente deu as mãos para solucionar aquela situação extraordinária e específica. Então nossa relação é sempre muito boa, não apenas com o Ministério, mas com todas as entidades que regem o esporte e o paradesporto nacional. Não necessariamente tendo uma relação formal por meio de convênio.

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