Apesar de disputado num tipo de piso que raramente se viu por aqui, o tênis brasileiro possui um histórico respeitável em Wimbledon, embora quase exclusivamente com os feitos de Maria Esther Bueno.
Ela conquistou o título individual por três vezes, em 1959, 1960 e 1964, e outros cinco de duplas, em 1958, 1960, 1963, 1965 e 1966. Além disso, fez as finais de simples de 1965 e 1966, atingido o vice de duplas de 1967.
No masculino, no entanto, houve pouca expressão. Até Gustavo Kuerten surpreender e chegar às quartas de final em 1999, o tênis brasileiro não sabia o que era disputar a terceira rodada de Wimbledon desde 1984. O primeiro a competir no torneio foi Alcides Procópio, em 38, mas a presença regular do Brasil só se registraria na década de 50.
Além de Guga, também chegaram nas quartas Armando Vieira, em 1951; Thomaz Koch, em 1967; e André Sá, em 2002.
Em duplas, as campanhas foram mais expressivas e o mineiro Marcelo Melo escreveu um capitulo todo especial. Foi semifinalista em 2007 ao lado de Sá; atingiu a final de 2013 junto ao croata Ivan Dodig e por fim conquistou um título histórico em 2017 com o polonês Lukasz Kubot. Já Bruno Soares foi vice de mistas em 2013 atuando com a americana Lisa Raymond.
Pequeno sucesso também veio nas categorias juvenis. O paranaense Ivo Ribeiro, em 1957, e o carioca Ronald Barnes, em 1959, foram à final de simples. Em 2014, o gaúcho Orlando Luz e o paulista Marcelo Zormann conquistaram o título de duplas.
No feminino, Teliana Pereira quebrou longo jejum de participações nacionais no torneio, que não acontecia desde 1990, quando jogou Andrea Vieira.
Miss Maria Bueno, como sempre se referiram os ingleses, tinha apenas 19 anos quando disputou a primeira rodada de Wimbledon, no dia 23 de junho de 1959. A adversária era a britânica Pamela Edwards, que levou uma surra de 6/1 e 6/3.
Se alguém tivesse ouvido Althea Gibson, primeira negra a ganhar Wimbledon, não haveria surpresa. Em 58, ao vencer o torneio de duplas ao lado de Maria Esther, Gibson profetizou: "Ela será minha sucessora".
Estherzinha, de estilo agressivo e gracioso, havia vencido os preparatórios de Birmingham e Bristol em 59. Levou um susto na segunda rodada, dia 24, mas se recuperou e marcou 4/6, 6/1 e 6/1 sobre a alemã Margot Dittmeyer. Em seguida, passou às oitavas com outra virada: 4/6, 6/3 e 6/1 em cima da americana Mimi Harnold. Seria seu segundo e último set perdido no torneio.
A neozelandesa Reneé Morrison caiu por 6/1 e 7/5; a soviética Edna Budding perdeu por duplo 6/3; e a americana Sally Modre tomou meros 43 minutos de Maria Esther, num fulminante 6/2 e 6/4.
Mas havia um desafio ainda maior. A outra finalista era a americana Darlene Hard, de 21 anos e vice de 57, para quem Maria Esther havia perdido nos seis jogos anteriores.
Na sexta-feira de 3 de julho, calor sufocante de 30 graus, 15 mil pessoas lotaram a quadra central e viram um show. A brasileira, de vestido branco, marcou 11 aces no placar de 6/3 e 6/4, encerrando 21 anos de domínio americano no torneio. No primeiro set, depois de perder o primeiro game de serviço e se recuperar no seguinte, Maria Esther maravilhou o público ao fechar o terceiro game com três aces, o que repetiria no game inicial do segundo set.
"Bueno voleou com um passo assassino e a graça de uma dançarina de balé", escreveu a agência de notícias AP. Depois de cumprimentar o juiz, Maria Esther se pôs a chorar e foi consolada pela própria Hard. O primeiro sorriso só veio quando recebeu o troféu da duquesa de Kent, com quem conversou por um minuto. A duquesa havia visitado o Brasil meses antes.
"Não me senti nervosa até o último ponto, aí joguei quase desmaiada", lembra Maria Esther, que teve de correr a uma loja para comprar um vestido para o baile dos campeões, onde seu histórico parceiro foi o peruano Alex Olmedo. Dançaram o "chá-chá-chá".
Bueno retornou ao Brasil seis dias depois e, apesar das sete horas de atraso devido a uma pane no motor do avião, foi recebida pelo presidente Juscelino Kubstichek no Rio, antes de seguir para São Paulo e ser conduzida, em cortejo pela cidade, até o clube Tietê, berço de sua paixão pelo tênis.
O título de 1959 seria apenas o início de uma história espetacular. Estherzinha se imortalizou na grama de Wimbledon com o bicampeonato de 60 e um terceiro título, quatro anos depois. Também em 1960, quando conquistou o bicampeonato de duplas - havia vencido em 1958 -, abriu caminho para uma temporada mágica em que acabaria por vencer todos os Grand Slam de duplas.
Em Wimbledon, totalizou cinco troféus nas duplas e chegou a outras duas finais de simples, uma semi e três quartas de final. Sua última aparição, em 76, já perto dos 37 anos, permaneceu como a melhor atuação do Brasil em duas décadas.