Com jovens promessas, China busca nova campeã de Grand Slam
Por Mario Sérgio Cruz
janeiro 7, 2020 às 8:23 pm
Xiyu Wang (à esquerda) e Xinyu Wang conquistaram o título juvenil de Wimbledon em 2018 e estão próximas do top 100 (AELTC/Anthony Upton)

Xiyu Wang (à esquerda) e Xinyu Wang conquistaram o título juvenil de Wimbledon em 2018 e já estão próximas do top 100 entre as profissionais (AELTC/Anthony Upton)

O tênis feminino ganhou força no mercado chinês nos últimos anos. E muito disso se deve às conquistas de Na Li, que impulsionaram o esporte no país mais populoso do mundo. Os dois reflexos mais claros são os vários torneios realizados em solo chinês durante o ano e grande número de jogadoras do país atuando em alto nível. Campeã de Roland Garros em 2011 e do Australian Open em 2014, Li já afirmou recentemente que espera ver uma nova chinesa conquistando um título de Grand Slam em até cinco anos. Atualmente, as duas principais apostas são jogadoras de 18 anos e de nome parecido, Xiyu Wang e Xinyu Wang.

Xiyu Wang é a atual 140ª colocada do ranking e chama atenção por ser uma jogadora canhota, algo pouco comum entre as asiáticas. Já Xinyu Wang ocupa o 153º lugar. No circuito juvenil, a canhota foi número 1 do mundo na categoria e conquistou o US Open em 2018. Já a destra ocupou a vice-liderança do ranking. Jogando juntas, ganharam o torneio júnior de Wimbledon há um ano e meio. As duas disputam nesta semana o WTA de Shenzhen, um dos nove torneios da elite do circuito realizados no país. A competição logo na abertura da temporada tem o comando de um brasileiro, Luiz Carvalho, que é diretor do Rio Open e também do torneio chinês.

Ambas nascidas em 2001, as duas jovens chinesas tinham cerca de dez anos quando Na Li venceu seu primeiro título de Grand Slam e não escondem a enorme admiração pela ex-número 2 do mundo e integrante do Hall da Fama do Tênis. Li parou de jogar em 2014.

“As conquistas da Na Li me deram muito incentivo, porque geraram mais atenção ao tênis chinês. Isso criou mais oportunidades e melhores recursos para que pudéssemos competir contra as jogadoras de alto nível”, disse Xiyu Wang, em entrevista ao TenisBrasil. Sua colega, Xinyu, pensa parecido. “Ela é um grande exemplo e um modelo para mim. Eu vejo que eu posso conquistar o que ela conquistou e isso me inspira muito”.

Na Li foi a primeira jogadora chinesa a conquistar um título de Grand Slam, em 2011. Na época, as duas atuais promessas tinham só dez anos.

Na Li foi a primeira jogadora chinesa a conquistar um título de Grand Slam, em 2011. Na época, as duas atuais promessas tinham só dez anos.

No caso específico do Xiyu Wang, há uma grande expectativa da própria Na Li, que indicou a canhota como uma possível sucessora. Mas a jogadora de 18 anos e que treina em Barcelona não se sente pressionada por isso.

“Preciso valorizar a chance que estou tendo e aproveitar cada oportunidade tiver para que, passo a passo, eu possa conseguir um grande feito”, explicou a tenista, que também comentou sobre sua rara condição de canhota. “Quando eu estava começando a jogar, meu primeiro técnico disse: Vamos ver qual mão você usa com mais frequência. Depois de um mês, ele descobriu que eu usava muito a minha mão esquerda, então acabei jogando assim”.

Nove torneios e quatro jogadoras no top 50
A China é o país que mais recebe etapas no calendário do tênis feminino, incluindo o WTA Finals, e conta com torneios de todos os níveis do circuito. Com tantos eventos, jovens atletas do país acabam ganhando convites para disputar essas competições e ganham experiência. Atualmente, quatro jogadoras chinesas estão entre as 50 melhores do mundo. Qiang Wang está no 28º lugar, Shuai Zhang é a número 40, Saisai Zheng está na 42ª posição, enquanto Yafan Wang é a 50ª colocada. Apenas os Estados Unidos, com sete jogadoras, tem mais nomes no top 50.

“É incrível que nós, chinesas, tenhamos essas oportunidades de competir contra jogadoras de alto nível e vivenciar mais de perto o tênis profissional”, disse Xiyu Wang sobre o grande número de eventos no país. “Acho ótimo que a China desenvolva uma cultura de tênis e melhore seu nível de um modo geral, para que o tênis possa se tornar um dos esportes mais populares daqui. Não apenas no nível profissional, mas também no nível de base”, explica a jovem jogadora, que estreou em Shenzhen vencendo a romena Sorana Cirstea, 74º do ranking, por 3/6, 6/1 e 6/1.

Por sua vez, Xinyu Wang acabou sendo eliminada na estreia, superada pela ex-número 1 do mundo Garbiñe Muguruza por 3/6, 6/3 e 6/0. “É bom poder enfrentar todas essas grandes jogadoras. Temos muita sorte de poder ter tantos torneios na China. É uma grande experiência para nós”, afirmou. “Acho ótimo para nós que tenhamos outras chinesas jogando cada vez melhor. Isso me encoraja e nos dá mais oportunidades, porque há a cada vez mais torneios em nosso país”, comenta a jovem chinesa.

No ano passado, ela enfrentou outro ícone do esporte em Shenzhen, mas abandonou por câimbras o jogo contra Maria Sharapova. “Foi ótimo enfrentar uma das melhores jogadoras do mundo. Ela é uma ótima pessoa, veio até mim, perguntou como eu me sentia e me deu bons conselhos. Espero um dia ser uma grande jogadora como ela”.

Premiações recorde na China
Outro fator que chama muita atenção quando se fala em tênis feminino na China são as premiações em dinheiro. O último WTA Finals, torneio entre as oito melhores jogadoras da temporada, foi realizado em outubro em Shenzhen e distribuiu US$ 14 milhões em oito dias de competição. O prêmio para a campeã de simples Ashleigh Barty foi de US$ 4,42 milhões, um recorde do tênis profissional entre homens e mulheres. Como Barty teve três vitórias e uma derrota, perdeu a chance de ganhar ainda mais. Uma eventual campeã invicta receberia US$ 4,72 milhões.

Outros dois grandes eventos realizados na China foram os torneios de nível Premier em Pequim e Wuhan. O torneio na capital chinesa distribuiu US$ 8,28 milhões, sendo US$ 1,5 milhão só para a campeã Naomi Osaka. Já o torneio de Wuhan, foram distribuídos US$ 2,8 milhões e a vencedora Aryna Sabalenka levou sozinha US$ 520 mil.

Até mesmo nas competições de nível International, como é o caso do torneio desta semana em Shenzhen, a premiação fala alto na disputa por jogadoras de alto nível. O evento na China distribui US$ 775 mil, sendo US$ 175 mil só para a campeã. Na mesma semana, Auckland recebe um torneio do mesmo porte com um orçamento mais enxuto. São distribuídos US$ 251 mil, com a campeã recebendo US$ 43 mil. Nas duas competições, as campeãs ganham os mesmos 280 pontos no ranking mundial.


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