Décamps aposta em mentor de Medvedev para evoluir
Por Mario Sérgio Cruz
novembro 29, 2022 às 10:04 am

Décamps começou o ano como 500º do ranking e saltou mais de 200 posições (Foto: Wander Roberto/DGW)

A primeira temporada exclusivamente voltada ao tênis profissional foi de muita evolução e aprendizado para Gabriel Décamps, um dos jovens jogadores brasileiros que mais se destacaram ao longo do ano. Vindo do circuito universitário norte-americano, Décamps aparecia apenas no 500º lugar do ranking da ATP em janeiro e atingiu em setembro a 262ª posição, melhor marca da carreira. O paulista de 23 anos e atual 277º do mundo está treinando na França, na academia de Jean-René Lisnard, um dos mentores do ex-número 1 do mundo Daniil Medvedev.

“Atualmente estou treinando no sul da França, na academia do Jean-René Lisnard, que foi 80 do mundo, e ajudou a formar o Medvedev durante oito anos. E tenho também meu treinador principal no circuito, chamado Stéphane Bohli. Ele foi 110 do mundo. Viajo bastante com ele, além de outros treinadores”, disse Décamps a TenisBrasil, destacando também sua rotina de preparação. “É muito carregado e a gente trabalha bem duro, mas eu gosto muito de onde estou e sinto que a cada semana estou evoluindo”.

Enquanto a maior parte dos jogadores brasileiros têm preferência pelo saibro, Décamps mantém a opção por pisos mais rápidos. De suas 15 vitórias em chaves principais de challenger na temporada, 12 foram em quadras duras, duas no saibro e uma em quadra de carpete, superfície ainda mais rápida por conta do quique baixo da bola e que favorece os grandes sacadores e os jogadores mais agressivos. A ATP não realiza mais torneios no carpete desde 2008, mas os challengers no piso ainda acontecem esporadicamente.

“Joguei no carpete também para trabalhar mais essa transição para frente e tentar subir mais para a rede. Foi algo que eu decidi com o meu time, porque os melhores jogadores vêm mais para a rede e jogam um tênis bem mais agressivo. Isso é o que eu estou tentando implementar no meu jogo, mas leva tempo”, avaliou o jovem paulista, ciente dos pontos em que precisa melhorar.

“Preciso trabalhar mais no meu saque, porque para a minha altura ele não é tão bom ainda”, comenta o jogador de 1,93m. “E o meu voleio também tem que melhorar muito para chegar nesse nível mais forte. Então tenho que trabalhar nessa subida à rede. E também a movimentação para ser mais rápido e mais forte fisicamente. Mas isso tudo vem com o tempo. Uma coisa que eu preciso fazer é jogar melhor nos momentos mais tensos, mais importantes, e ser mais agressivo nessas situações”.

“Quero ficar mais forte fisicamente, e o ponto que eu tenho que melhorar mais é o saque e a transição a para a rede. É algo que eu tenho que melhorar muito. Devolução de saque é outra coisa que eu não faço tão bem e os melhores jogadores não erram. Eu tenho dado muitos pontos de graça”.

Confira a entrevista com Gabriel Décamps.

Qual a avaliação que você faz dessa sua temporada inteira só focado no circuito profissional? Você começou como 500 do mundo e chegou ao ao top 300. Em quais pontos você sentiu que mais evoluiu e onde você acha que precisa melhorar?
A minha avaliação desse ano é muito positiva. Consegui melhorar o meu ranking e jogar torneios challengers com caras mais fortes, jogadores melhores e mais experientes. Consegui aprender muito e melhorar muito o meu jogo nesse nível. É lá que eu quero estar, jogando contra os melhores, que é onde você consegue evoluir ainda mais.

Meus golpes estão mais firmes e estou mais sólido também. Uma coisa que eu preciso melhorar é jogar melhor nos momentos mais tensos, mais importantes, e ser mais agressivo nessas situações. Também preciso trabalhar mais no meu saque, porque para a minha altura ele não é tão bom ainda. E o meu voleio também tem que melhorar muito para chegar nesse nível mais forte. Então tenho que trabalhar nessa subida à rede. E também a movimentação para ser mais rápido e mais forte fisicamente. Mas isso tudo vem com o tempo.

Você atualmente vive na Europa. Como está a sua equipe e a rotina de treinos, e com quem você viaja no circuito?
Atualmente estou vivendo no sul da França, em Cannes, e estou na academia do Jean-René Lisnard, que foi 80 do mundo, e ajudou a formar o Medvedev durante oito anos. E tenho também meu treinador principal no circuito, chamado Stéphane Bohli. Ele foi 110 do mundo. Viajo bastante com ele, além de outros treinadores.

E nas minhas rotinas de treino, todo dia a gente treina das 8h às 10h em quadra. Ou das 10h ao meio-dia. Aí, depois, das 14h às 15h tem treino físico, das 16h às 18h a gente treina mais tênis, e ainda tem mais uma hora de alongamento. Então, é muito carregado e a gente trabalha bem duro, mas eu gosto muito de onde eu estou e sinto que a cada semana estou evoluindo. Isso é o mais importante e um dia vou colher meus frutos.

Você tem uma predileção maior por condições mais rápidas, tanto que nessa última temporada foram 15 vitórias em challengers na quadra, uma no carpete na Alemanha, e duas no saibro. Pretende manter um calendário parecido para o ano que vem ou deve incluir um pouco mais o saibro, pensando no quali de Roland Garros?
Eu joguei quatro anos nos Estados Unidos na quadra dura. E quando fui jogar o profissional, a gente decidiu ir para lá. Eu joguei alguns futures no saibro também, fiz até uma semi, mas estou mais acostumado de jogar na quadra dura. Foi onde eu tive os meus melhores resultados. E é por isso que eu a gente manteve essa ideia de jogar nessas quadras mais rápidas também.

Joguei no carpete também para trabalhar mais essa transição para frente e tentar subir mais para a rede. Foi algo que eu decidi com o meu time, porque os melhores jogadores vêm mais para a rede e jogam um tênis bem mais agressivo. Isso é o que eu estou tentando implementar no meu jogo, mas leva tempo.

Pretendo, sim, jogar Roland Garros. Sei que ainda está muito para frente, mas meu objetivo é jogar os qualis dos Grand Slam. Roland Garros seria muito especial para mim, por ter muitos familiares lá. Meu pai é francês e sonha em me ver lá, mas tenho que pensar em um dia de cada vez. E no saibro, joguei bem, tive bons resultados, ganhei de bons caras. Isso me dá mais confiança.

E como foi jogar no carpete? Assistindo, pareceu um jogo muito rápido, com quique baixo da bola. O que isso exigiu de adaptação ou de preparação para você?
Foi uma experiência muito boa para mim. É um pouco como jogar na grama, mas é mais rápido. O quique é muito baixo e a bola resvala muito, é muito rápido, o slice pega muito. E quando o cara bate muito reto, o quique dela vem mais rápido. A adaptação foi bem difícil, você tem que estar com um bloco muito baixo das pernas, o corpo sofre muito, mas como eu disse foi uma experiência boa para trabalhar essa transição para a rede, que é algo que eu não faço muito bem ainda.

A gente tem visto muitos jogadores que se destacaram depois de passar pelo tênis universitário, como foi o [Cameron] Norrie há alguns anos e agora também o [Ben] Shelton que tá chegando no top 100. Como era o ambiente de competição nos anos que você estava lá e o quanto os resultados de jogadores assim de te motivam?
O ambiente do College é muito competitivo, tem muita pressão. É muita gritaria. E você realmente trabalha muito a parte mental, de jogar com a pressão e ter que manter a calma para ganhar o jogo para o seu time. Você não joga só por você. A responsabilidade é muito maior, de jogar por uma faculdade que está te dando a bolsa e a oportunidade de também ter os seus estudos. É muita pressão, mas isso ajuda muito para o circuito.

Você vê agora o Shelton e o Cameron Norrie e outros caras que estão ainda no top 300, mas que jogam muito bem. Joguei contra contra todos eles na faculdade e isso me ajudou muito. Claro que dá uma motivação extra, porque eu sinto que eles evoluíram bastante e eu também posso. Você pega o Shelton, por exemplo, o saque dele é impressionante e me motiva ainda mais a trabalhar o meu saque. Eu sinto que se esses caras conseguem eu também consigo. A comparação é boa, mas às vezes é melhor ter em mente que cada um tem seu tempo e continuar trabalhando todo dia que uma hora o meu momento vai chegar.

Acompanhei alguns dos últimos jogos seus, especialmente naquelas semanas do Canadá, e te vi usando usando bem alguns slices e subindo à rede. Não é só aquele jogo de saque e primeira bola. Foi algo que você implementou agora no profissional ou você já trazia isso do tempo que jogava o universitário nos Estados Unidos?
Não só no Canadá, mas também em outros torneios que eu joguei. É algo que eu tô melhorando. Meu jogo nunca foi de saque e primeira bola, eu sempre fui sólido de fundo. As pessoas acham que porque eu sou um jogador de quadra dura que não tem muita troca de bola, mas na verdade, não.

Agora é trabalhar essa parte de variação, porque antes eu só jogava de uma maneira, e nesse nível os outros se acostumam e mudam a forma de jogar. Então, eu tenho que trazer mais variação para o meu jogo. A gente tem trabalhado muito o slice e a subida à rede. Como eu falei antes, é algo muito chave para mim e vai fazer a diferença no ano que vem. Se eu quiser chegar ao mais alto nível é assim que eu tenho que jogar.

Nos Estados Unidos, como a gente joga bastante dupla, a variação é algo que ajuda muito. Meus treinadores lá sempre me pediam para fazer saque e voleio na dupla para poder trabalhar essa transição em simples também.

Como está seu planejamento de calendário e as metas para o próximo ano? Tem algum ponto específico que você queira focar na pré-temporada?
Vou começar o ano que vem em alguns challengers em Portugal na quadra dura e aí a gente vê como que vai ficar e decidir qual vai ser o resto dos torneios.

Minha pré-temporada começa no dia 5 de dezembro e o foco vai ser muito no trabalho físico. Quero ficar mais forte fisicamente, e os pontos que eu tenho que melhorar mais são o saque e a transição a para a rede. É algo que eu tenho que melhorar muito. Devolução de saque é outra coisa que eu não faço tão bem e os melhores jogadores não erram, mesmo quando os adversários sacam bem. Eu tenho dado muitos pontos de graça nessa temporada e é algo que vou focar muito.

Agora em dezembro teria a MEB Cup, que dá vaga no Rio Open, mas vocês decidiram não participar. Foi uma decisão da equipe para não terminar o ano muito tarde e atrasar a pré-temporada?
Sim, tiveram contato, mas infelizmente a data não foi boa para mim, porque estou focado em me preparar bem para o ano que vem. Agradeci muito o convite, mas eu e minha equipe decidimos de não participar.

 


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